sexta-feira, 5 de março de 2021

E se ele for realmente um caso clínico?

 E se ele, realmente, for um caso clínico?

Démerson Dias


Il-vestito-dell_imperatore - L. Lucchese
    A permanência de Jair Bolsonaro na presidência constitui perigo grave e incessante. Ele não é mão por trás da arma, porém, ao utilizar o cargo para obstaculizar, sabotar, constranger e inviabilizar as ações e cuidados em relação à pandemia, agrava de forma lancinante os efeitos e consequências da COVID.

     Para alguns de nós já é escandaloso, no entanto, se algum dos defensores de bolsonaro ainda não sucumbiu ao surto psicótico coletivo, sugiro tentar encarar hipoteticamente as seguintes declarações a seguir:

     Perguntado sobre o fato do país ter superado a China em número de mortos, a principal autoridade responsável por adotar providências para o combate ao coronavírus responde "e daí?". E ainda devolve "quer que eu faça o quê?". Não conformado tenta constranger o país fazendo chacota quando afirma: "Sou Messias, mas não faço milagre". 28/4/20.

     Enquanto o mundo todo se desdobrava na busca de uma vacina contra o coronavírus, o  presidente comemora a suspensão desses estudos. Bolsonaro afirmou que ganhou quando o combate a covid sofreu um revés. Na ocasião, a Anvisa suspendeu a fase de testes em humanos do Instituto Butantan. A declaração do presidente foi "Mais uma que Bolsonaro ganha". Quem está ganhando qualquer coisa quando a pandemia está vencendo? (10/11/20)

     É estarrecedor que Bolsonaro esteja concorrendo consigo mesmo na capacidade de esculhambar o país, a população e as autoridades. Ou é parte de uma guerra de posições contra o combalido estado de direito que está soçobrando no país a passos bolsonáricos. Em tempo, se for isso, ele está vencendo.

     Enquanto o país volta a bater recordes diários sucessivos no número de mortos, compara a preocupação com a pandemia, e com as vidas, acima dos interesses econômicos a uma “frescura”, um “mimimi”. Se um parente, ou amigo seu morreu e você ouve, na sequência, o presidente do país dizendo isso, que tipo de reação pode ser esperada? Vá em frente, tem o meu apoio!

     Em ouro momento, no mesmo dia, chamou de idiota quem reclama a falta de vacinas, sendo que o governo federal negou e fez o possível e o impossível para inviabilizar o acesso do país ao tratamento (episódio das MPs 927/20 e 937/20).

     A avalanche de declarações parecem indicar que Bolsonaro recusa a veracidade, as consequência e a gravidade da situação. É como se, para ele, as mortes fossem mera acomodação estatística, ou efeitos colaterais aceitáveis.

     A existência de tantas e tamanhas inquietações me leva a sugerir uma hipótese. E se, de fato, o presidente padecer de algum distúrbio ou transtorno grave? Dissociativo, cognitivo, de humor, ou outro qualquer. Aleatoriamente, pincei de uma página do Senado Federal (19/04/2010) a seguinte descrição: “Psicopatia, sociopatia ou transtorno da personalidade antissocial é um comportamento caracterizado pelo padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros”.

     O cotejamento entre essa descrição com as declarações e atitudes de Bolsonaro. Será que Bolsonaro é atormentado e a única coisa que falta é (como no conto de Andersen, O rei está nu) uma criança singela e inocente mostrar isso ao país e ao mundo todo?


     E a chance das demais autoridades demonstrarem que não são coniventes exige bem mais que o silêncio, alguma atitude nos termos de suas responsabilidades e prerrogativas precisa ser adotada, sob pena de parecer omissão ou conivência.

        Ao menos uma autoridade parece estar disposta a romper institucionalmente com o ocupante do Planalto (convenhamos, cartas e manifestos . . .). Está corretíssimo o governador Flávio Dino ao apresentar queixa-crime contra o Presidente da República. A aceitação da queixa-crime pelo STF pode forçar o Congresso a discutir a suspensão do presidente.

     A permanência de Bolsonaro no cargo é questão de “periculum in mora”. “Bolsonaro é uma doença contagiosa e tem que ser retirado imediatamente do meio da sociedade” Já nos advertia ainda em 2017 Givânia Silva, uma das coordenadora da CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das comunidades Negras Rurais Quilombolas).

     O presidente deveria ser imediatamente interditado, bem como sua sua linha sucessória, executiva e legislativa que está comprometida com suas insanidades. Restando, como única saída possível, dentro do ordenamento vigente, que Luiz "mata no peito" Fux, ocupe temporariamente a presidência (e viabilize novas eleições nos termos da lei). De toda a linha sucessória, é a única autoridade que parece ter o mínimo de noção do que significa a pandemia, e as responsabilidades dos poderes constituídos em relação a ela.

    Parece ser essa a única possibilidade de darmos chance para que os profissionais da saúde e cientistas, consigam fazer seu trabalho em paz. Sem sabotagens, prevaricações, nem incitações criminosas de todo tipo.

     Por falar em responsabilidade, ao invés das reformas venais, existe uma reforma constitucional mais urgente e essencial nos tempos atuais. Ao artigo 86 da constituição federal, precisa ser acrescido, como condição para suspensão de mandato, ainda em seu inciso I: “Infrações contra os direitos humanos; que coloquem em risco a vida das pessoas; negligência diante de calamidades.”

     Sendo um razoável indício de que temos um mandatário fora da normalidade sanitária,  que uma proposta como essa seja aventada. Em décadas anteriores seria uma aberração. Hoje parece a única medida legislativa e cívica saudável. 

     Fora Bolsonaro! Pela Vida! Fechamento total! Vacina para todos, já!


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