terça-feira, 10 de junho de 2014

Greve no metrô: Alckimin e TRT não estão nem aí para o povo

Charge de Latuff
Não adianta a juíza do TRT esbravejar, nem Geraldo Alckmin fazer careta de ditador (perdão, no caso dele, não é careta). Os únicos que efetivamente se preocuparam com a população foram os trabalhadores metroviários e seu sindicato.
Os metroviários, e nem é a primeira vez, propuseram que as negociações ocorressem sem que o transporte público fosse afetado. Porque será que a vice-presidente do TRT não priorizou a função social da justiça do trabalho e aderiu à tese dos trabalhadores? Será que a propalada “linha dura” só se aplica ao lado mais fraco das relações de trabalho?
Diante da oferta do sindicato de que suspenderiam a greve se as catracas fossem liberadas, a douta magistrada não ousou alinhar sua função institucional com o interesse geral da população, a mesma que ela afirmara não poder ser prejudicada. Afinal, se a empresa vai ter ou não prejuízo deveria ser questão menor diante da questão do transporte público. Ou não?
No discurso a juíza dizia condenar os grevistas a uma greve de fachada, 100% da frota em horário de pico! E ainda se acho no direito de contestar a legitimidade das assembleias. Ora se um dirigente não respeitar sua categoria, vai representar a quem? A juíza está defendendo que todo dirigente seja pelego? Cá pra nós, se até uma juíza do trabalho tripudia da democrática operária, pra que serve esse ramo da justiça? Qualquer justiça não especializada poderia prestar esse tipo de desserviço.
Mas não houve a mesma coragem e disposição para impor a efetividade no transporte como propunham os trabalhadores. Isso não é justiça, é bravata.
Ao negligenciar a proposta dos metroviários, a Justiça do Trabalho torna-se cúmplice na propagação do caos no transporte. Afinal, preferiu posar de autoridade, à garantir o interesse público. Mais que isso, a magistrada contribui para a criminalização do movimento paredista, se não, vejamos a reação do déspota que ocupa o Palácio dos Bandeirantes.
Do governador, cujo conluio partidário está no poder a meros VINTE ANOS nada a acrescentar, “dane-se a população”.
O argumento do prejuízo para o erário é tão falso quanto a vocação democrática de Alckmin. “Não, não. Veja bem, o Metrô é uma empresa, e como empresa, precisa ter um equilíbrio financeiro" disse ele ao Estadão / UOL. Ou seja, para esse senhor, o equilíbrio financeiro da empresa pública é mais importante que o transporte público. Porque só os trabalhadores devem conviver com o desequilíbrio financeiro de suas famílias? (e como a justiça do trabalho deixa de reconhecer efetivamente o lado mais frágil da relação, dando lugar apenas à falácia governamental?)
O transtorno nos transportes implica em custos adicionais generalizados na economia. Concretamente há redução no fluxo de passageiros, mas parte da frota e todo o sistema de suporte ao transporte, gastos com energia, limpeza, manutenção dentre outros seguem ocorrendo, portanto alguma perda já está ocorrendo. Aliás, a aqueles, some-se o custo da mobilização do aparato policial repressor (quanto custam aos cofres públicos as bombas de efeito moral?) de que o democrático e cioso governador lança mão.
Mas o transporte não é dever do Estado? Então porque o governador Alckmin não faz algo que preste e preserva o transporte que não só é interesse público, como sua obrigação?
O reinado tucano já passou décadas vendo a situação de fornecimento na água atingir o atual patamar catastrófico sem cumprir minimamente sua obrigação.
Por esse exemplo, dá pra deduzir que o povo pode amargar eternamente com o transtorno da ausência de metrô, desde que a sanha ditatorial e truculenta do governador seja saciada.
A resposta daquele infeliz a quem chamam de secretário só não é mais imbecil porque seria impossível. Em se tratando de ente governamental, a sociedade arca solidariamente com custos de qualquer jeito.
Mas, afinal a prioridade do metrô é dar lucro ou transportar pessoas? Colocando de outra forma se tiver que dar prejuízo, a estatal poderá se eximir de cumprir suas funções? Se sim, por que a sociedade mantém essa estatal? Se não, porque então não garantir a função precípua de transportar pessoas?
E cabem outras perguntas: Porque o transporte coletivo tem que dar lucro pra alguém? Aliás, pelo discurso falacioso do Alckimin, parece que existe uma fila de acionistas, todos de bom coração, que serão prejudicados caso o metrô libere a catraca nos dias de greve. Quem são os “prejudicados” pela suposta perda na liberação das catracas?
Vejamos: pela participação acionária que a duras penas conseguimos encontrar na página oficial da estatal, 96,64% pertence à fazenda do estado; 3,25% à prefeitura de São Paulo e 0,11% a outros que a empresa não discrimina. Ora, como o estado não deve dar lucro, liberar a catraca, a rigor não prejudica nenhum ente privado de forma direta. E melhora diretamente a vida de milhões de trabalhadores e demais usuários que economizarão o valor das passagens.
Então, como dizia o personagem do fantástico Chico Milani, “NÃO ME VENHAM COM CHORUMELAS!”
Evidentemente apuração real dos fatos, e muito menos da verdade, nunca vamos ler na grande mídia. Tudo para o tucanato são negócios e negociatas. Alguns aspectos dessa verdade não ficam mais claros por conta da conivência generalizada dos grandes veículos de propaganda que chamamos eufemisticamente de imprensa.

A proposta de greve dos metroviários com liberação das catracas além do bom senso, é uma das coisas mais lúcidas que temos ouvido nos últimos tempos. Mas quem disse que bom senso e lucidez são matérias de interesse público em termos políticos?