segunda-feira, 1 de julho de 2013

Isso era mesmo necessário?


E se o PT tivesse cumprido a vocação história de sua criação? A pergunta pode parecer singela, capciosa ou equivocada. Só que no meu caso ela apenas revisa uma análise feita no início do governo Lula. Nos idos de 2003 já com a Reforma da Previdência de FHC em curso pelas mãos de Lula (via Ricardo Berzoini), como primeira medida oficial de seu governo, perguntei porque Lula, ao invés de cruzar a esplanada com os governadores não estava cruzando com o povo?

Outro companheiro pleiteava um “choque republicano”, eu, baseado nos mesmos questionamentos, preferia um “choque de democracia”.

Os acólitos apontarão para o Chavismo. Mas como comparar as obrigações do coronel paraquedista venezuelano com a do maior ícone político da esquerda no Brasil. O populismo não era a única possibilidade para Lula, porque todos temem a democracia, mesmo os que a defendem como valor universal?

Creio que todos estamos vibrando com as manifestações que percorrem o país, mesmo considerando suas contradições. Porém, como não perguntar se era preciso chegar a isso para que as centrais sindicais “se tocassem” da necessidade de retomar uma pauta classista comum?

Estive na primeira posse de Lula, um momento histórico para a maioria de nós. Naquela oportunidade companheiros que ainda acreditavam me entregaram um belo calhamaço chamado Programa de Segurança Alimentar, era o vulgo Fome Zero, cuja frustração afastou do governo todo um “staff” comprometido não apenas com um programa assistencial, mas um modelo de organização popular que já era maior, enquanto proposta política, do que os círculos bolivarianos. E o bolsa família era apenas a cereja do bolo.

A dúvida que ainda me ocorre é, porque Lula, com a estatura que possuía (o tempo foi lhe vergando inapelavelmente) abriu mão de seu maior patrimônio? Poderia ter superado o legado Vargas, ao invés de tentar revertê-lo.

Lembro que eu já chamei Lula de estadista e fui dura e severamente advertido por um companheiro. Nunca mais cometi esse equívoco. De fato, uma das características mais emblemáticas dele e seu governo foi o anti-estatismo, elegeu como um dos principais adversários os servidores públicos federais e, lamentavelmente estava muito mais habilitado do que seu antecessor para dinamitar as conquistas desse segmento, um dos poucos no mundo que deu combate diuturno ao neoliberalismo a ter vitórias pontuais e parciais importantes.

Enfim, tenho que agregar um novo questionamento ao rol de leviandades do lulismo. Teria sido necessária uma articulação autônoma da sociedade, para que o lulo-petismo tivesse um soluço democrático?

Articulação essa, aliás, que prefere alijar não apenas a esquerda, mas toda a esfera política do país para fazer com que um governo ambicionado pelas mobilizações sociais que foram fundamentais para botar abaixo a truculência civil-militar de 1964, lembrasse que o protagonismo das ruas não é um capricho democrático, mas o indutor efetivo de mudanças?

Uns acham que éramos nós, os movimentos obrigados a forçar o governo para a esquerda. Na minha reles ignorância política, sempre achei que um governo que precisa ser convencido a ser democrático, não pode ser considerado herdeiro da nossa história.
Sei lá, Lula, eu aceito o argumento do bolsa família, mas não subverta a democracia tanto assim. Veja se o país precisava chegar a essas cenas apenas pra que alguém lembrasse o que significa democracia?