segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Muito Prazer!

Você
Um consenso do universo
Em que nos despimos das dúvidas
E vestimos a alegria

A cada passo
Uma extensão de mundo
Cada vez mais infinito

Em cada hesitação
Uma certeza de futuro
Em cada sorriso
A confiança no amanhã

Nos seus erros
Reafirmamos a sua vocação pra vida
Nos seus acertos
Se realizam destinos nossos
Que jamais almejaríamos

Não há palavras que bastem
Não há ciências que expliquem
Não há emoção que cale
Só o amor nos justifica

Você,
Meus olhos sobre o mundo
Depois de mim
Um filho que não tem fim



(Bruno Gabriel 3 anos de magia, recentemente)

Contorno por linhas tortas

Não tolero mais semideuses
Estou farto de sua arrogância pueril
Se é pra recorrer a divindades, que sejam plenas, inteiras
Basta de milagres incapazes, ou pela metade
Já há, afinal, metades demais na vida corriqueira
Recorremos a deuses por aspirarmos o além, não por nos bastarem as farsas
E semideuses possuem o condão de nunca alcançar, de fato, graça alguma
São sempre a expressão de algo que poderia ter sido, e se perdeu diante do próprio reflexo
Assim como uma virtude que, incompleta, sempre ocultasse uma mazela
E o universo produzisse, em soluço, algo que tem a pretensão de ser novo, mas que é incapaz de deixar de ser velho.
Nem bem nasce e está decrépito. Que, ao morrer, se torna adubo e não fertiliza.
Como um sonho em que a soberba sufoca qualquer ventura, sejam as virtudes do fracasso, ou a fortuna do saber, ou do sentir
Ainda como graça, são tristonhos, pois, embevecidos em suas nulidades e afogados em seus vazios,
São pouco mais que arremedos de qualidades exasperadas e sempre irresolutas
Nâo são belos os semideuses, não porque alcancem determinada fealdade, mas porque, incompletos, esmorecem em lugar qualquer entre o formoso e o desfeito
Mesmo como desastre, são projetos inacabados, como frases indizíveis
Não lastimemos por eles, mas também não sejamos cúmplices de suas falácias

domingo, 14 de novembro de 2010

Por que você compra notícia?


A pergunta alternativa seria por que você paga para ter uma opinião, mas ambas remetem ao mito de que pagamos para ter informação a partir da qual poderemos formar nossa opinião.
Deixo de lado um aspecto da televisão aberta e do rádio, na medida em que vislumbram uma variável dessa questão. Nesses meios, os patrocinadores pagam a um veículo para chegarem até nós. Ou seja, nós, como audiência, somos a mercadoria.
Mesmo, porém, no caso das mídias que pagamos para acessar, como jornais, revistas, tv por assinatura, embora sejamos mercadoria para a publicidade, estamos pagando, geralmente, para que alguém nos diga o que pensar sobre o mundo a nossa volta.
E o problema nem começa na questão da opinião editorializada travestida de “matéria imparcial”, mas na própria pauta. O veículo define o que é importante e sob que enfoque e até sugere, pelo uso de adjetivos, que tipo de disposição você deve ter em relação à informação.
Assim, você não fica sabendo quantas crianças nascem a cada dia, quantas pessoas morrem e por qual motivo, nem a média de preços pela qual foram comercializados os itens de primeira necessidade, mas é religiosamente informado da variação do dólar e do volume de recursos e operações negociados na bolsa de valores.
Por que não se monta uma estatística com o número de pessoas que foram salvas pelos serviços de emergência médica? Ou com o número de crianças que conseguiu, no dia de ontem, ter acesso a pelo menos quatro refeições?
Porque alguém determinou que isso não interessa. Mas alguém lhe perguntou se você prefere receber essa informação em vez da cotação do dólar? Evidente que não. Ressalte-se que não vivemos mais um período em que a variação do dólar poderia afetar o preço no supermercado no dia de amanhã. Informações sobre essas cotações são cacoetes que visam nos reconfigurar como devotos dos fenômenos monetários. Essa é a religião do deus Mercado, à qual, devoto ou não, você segue sendo exposto, independentemente de se sua prioridade ao procurar o noticiário está no lazer, cultura, saúde ou página policial.
Você nunca sabe se um acidente aéreo que vitima centenas de pessoas (inclusive pessoas que você até pode conhecer) deixará de ser notícia para realçarem um “furo de reportagem” que sugere um flagrante numa operação de corrupção que acabará levando a nenhuma conclusão.
Esses são os exemplos mais evidentes. Mas a questão central ainda é: por que pagamos para que as pessoas pensem por nós? Se é que algum dia ele existiu, há muitas décadas caiu por terra o mito de imprensa imparcial.
Se não, vejamos: há revistas e jornais pelos quais você paga um valor até razoável. A chance de que a publicação ganhe com a venda mais do que com a propaganda é mínima. Os veículos mais famosos arrecadam verdadeiras fortunas a cada edição. Não há hipótese de concorrência entre os leitores em busca de informação e os que pretendem vender a eles algum produto. Aliás, a ideia é até bastante simples: quem procura informação está aberto ao consumo através daquele veículo, inclusive porque confia que ali se encontra informação de qualidade e desinteressada. Por isso, se torna produto valiosíssimo a quem quer vender alguma coisa, inclusive alguma ideia.
E isso ocorre mesmo no caso em que um jornalista tenha encontrado uma informação relevante e procure todos os lados envolvidos (como supostamente apregoam os manuais de jornalismo). Embora o jornalista tenha se tornado alguém com opinião abalizada por conta da pesquisa empreendida, ao chegar na redação essa informação será analisada por alguém que pouco ou nada sabe sobre o assunto tratado, mas que terá poder de decretar, na apuração feita, o que será veiculado como verdade, o que será colocado em dúvida. E, se calhar, ainda mandará buscar a opinião de um terceiro, somente para reforçar a sua ideia de verdade.
Por isso, sempre que você ouvir algum veículo noticioso bradar imparcialidade, fingir ponderação e razoabilidade, pense dez vezes sobre o que está sendo vendido a você. Provavelmente, o veículo está sendo pago para fazer você assumir como verdade uma informação bem pouco confiável.
Ou seja, você paga para saber, consumir e às vezes assumir uma verdade que não é necessariamente sua - e, pior, pode nem mesmo ser verdade, apenas uma ideia que alguém quer que você “compre”. De forma que a pergunta inicial pode ser outra: sua consciência está à venda? Se não, cuidado com as “verdades” que estão lhe vendendo. Elas podem, na verdade, estar consumindo você.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Entre segredos e jabuticabas 3

Uma amiga muito querida enviou-me “o tempo e as jabuticabas”. De fato se parece com uma colagem de frases que tenho dito nestes últimos anos. Surpreendeu-me, pois alinhadas deixam transparecer algum cansaço. Falta dizer que sendo impossível deixar de percorrer esses espaços de perdimento em que pessoas confrontam suas futilidades, às vezes é possível descobrir algo entre os anônimos, entre os não saberes.
De certa forma não me desencantam as dúvidas, sempre sobrevivem perguntas belas e desavisadas quando buscamos descontar o lugar comum à nossa volta.
Ainda assim, é mais saudável buscar os espaços em que o inédito se desdobra continuamente e sempre teremos uma surpresa num brilho de luz que acidentalmente cruza nossa linha de visão. Pessoas que não se desencantaram da vida, portanto, trazem firmes seus encantos em suas formas e o desafio no olhar.
Sempre me agradou nas jabuticabas quando as rompemos, estourando sua casca entre os dentes. De dentro o sumo doce que recobre as sementes. Lembrança da infância, jabuticabas me soam como frações de alegria.
Entre segredos e jabuticabas 2

Confesso que achava a internet mais divertida antes das redes sociais e do desespero pornográfico. Não me viciei nas redes, mas o desfile incessante causa um certo fastio. Entendo que é preciso comedimento mesmo nas raras amizades. Uma das compulsões nessas redes é de se dizer sempre, ainda que nada, ou seja, fazer-se presente como uma necessidade em si. Como se somente o outro nos justificasse. Mas não podemos ser somente pela percepção do outro, do contrário nada teremos a lhe oferecer. Surge então um paradoxo de feedback o contato e a presença tomam o lugar da relação efetiva. Esta, portanto, já era.
O tema desespero pornográfico é algo menos frequente. Num primeiro momento alguns bons espaços onde buscávamos acrescentar conhecimento sobre informática, que hoje se tornaram espaços de hackers foram assaltados pela indústria pornográfica. Buscar um serial de algum programa, então, é mais exaustivo do que visitar o xhamster ou xtube. Mas não é só isso.
Tanto em redes sociais, quanto em blogs é possível notar como o apelo à exposição gera uma espécie de displasia da imagem. A sofreguidão com que alguns tentam ser o que não são é algo, por vezes, constrangedor. A sucessão de deformações é impressionante.
Parece que ser apenas o que se é desmerece a própria existência. Um ser que precisa não ser.
Entre segredos e jabuticabas 1

 – Escrevo blogs secretos!
– Com que frequência?
– Até agora, sempre!!!

Tenho um discurso na ponta da língua sobre a ostentação em blogs. A melhor síntese seria que não acredito em blogs.  Isso não mudou, o que muda com alguma frequência é o tipo de cobrança que sofro acerca do que escrevo, além de uma incerta impaciência quanto à indisciplina em percorrer os descaminho do texto e da análise.
Os blogs secretos são reais. Um deles só duas pessoas conhecem e outras 3 ouviram dizer. Outros três são conhecidos apenas pela boa alma que lustra minhas palavras (é bem mais que isso, mas não chegamos a um acordo sobre essa descrição). O segundo empecilho é a inconstância e a infrequência com que percorro os bytes do processador de texto. O primeiro, óbvio, é uma pergunta persistente: pra que escrever um blog?