quarta-feira, 5 de abril de 2023

A indecente falta de educação.


Démerson Dias



Talvez se eu não fosse filho de professora, seria menos sensível à questão educacional.

Escola Estadual Chácara das Corujas, no Grajau (Rivaldo Gomes/Folhapress)
O contexto geral atual do país (e do mundo) atingiram meu limite de estarrecimento em relação aos bens sociais mais imprescindíveis da humanidade, educação e saúde.

A começar que sem a primeira, não existe a segunda.

Mas é também a educação que nos apresenta ao termo dignidade. Por isso é mais perseguida que qualquer terrorista ou traficante. Que, convenhamos, são funcionários das burguesias, assim como todos os facínoras.

Alcançamos um ponto em que a educação vigente é um projeto para reverter a civilização (como se essa já fosse grande coisa comparadas aos povos originários do mundo.

A frase de Darcy Ribeiro não é apenas denúncia, é profética: “A crise na educação não é crise, é projeto”.

O modelo educacional vigente, patrocinado pelas burguesias e agora arregaçado em seu despudor através do vetusto “novo” ensino médio, é inúmeras vezes pior do que o antigo projeto MEC-Usaid, denunciado, dentre outros pelo controverso, mas redimido deputado e jornalista Marcio Moreira Alves (Beabá dos Mec-Usaid).

A domesticação e assujeitamento do Brasil ao segundo plano na economia e protagonismo político é produto direto do projeto educacional burguês. Somos um país adestrado para ser servil a parasitas.

A cultura popular brasileira, incluídas a dos povos originários e afrodescendentes é disruptiva em relação aos ditames senhoriais da alta burguesia internacional.

Nos tornamos ponta de lança da investida neofacista no mundo porque chegamos ao fundo do poço humanitário. Restou à burguesia exaltar o obscurantismo estrutural e estruturante. 

Não tem jeito. Se o projeto de povo e nação brasileiros é deixado à própria sina, revolucionamos a realidade. É preciso um projeto de adestramento que nos prive absolutamente da alma, desejo e potencialidades. E essa é a matriz educacional do país: desnaturar os povos que vivem na sucessora de Pindorama. Estuprar melodia e verso da obra de Bandeira e Villa-Lobos em defesa da pátria.

O Brasil não é um país pacífico, é de luta. Até o aterramento civilizatório patrocinado pelo varguismo, o país viveu algo como uma média de levantes populares ou rebeliões a cada cinco anos de história.

Não somos um país pobre. A injustiça é mecanismo de obstrução da realização de potencialidades. Se o Brasil fosse liberal estaríamos além de uma quinta potência econômica (um marco humanamente pueril, reconheço), onde já quase chegamos como resultado de um mínimo assistencialismo turbinado.

Inventamos um sistema de saúde ímpar, o SUS. O maior do mundo em ousadia.

O Brasil não tem Nobel porque isso seria vexatório para a burguesia parasitária brasileira que se esmera febrilmente para manter o país numa avassaladora posição servil. Por que é a servidão das multidões que garante a uma das mais desqualificadas burguesias do mundo, bocejar pelas favelas vistosas e bem acabadas de Miami. Nem se quer se envergonham de serem reconhecidamente bestiais, pedantes e intelectualmente indigentes.
A propósito, é preciso emburrecer a brasilidade originária para que não fique escancarada essa indigência intelectual. É preciso muito esforço para ser mais idiota que a burguesia brasileira. E é assim porque é o que prescreve para um país subalterno a grande burguesia.

As violências, assassinatos, desterro existencial nos quais sucumbem as unidades educacionais e seus prisioneiros: alunos, professores e gestores, são o ponto fulcral da luta de classes no país. Talvez devêssemos começar por ali a revolução emancipadora brasileira. Temo que os revolucionários brasileiros, não tenhamos amor, nem coragem suficientes.


Essa reflexão é motivada e dedicada à minha mãe e as, felizmente, incontáveis pessoas da área da educação (inclusive educação popular) com quem convivi, convivo e admiro. Inclusive a Bruno e Thifany, minhas luzes.