segunda-feira, 8 de outubro de 2018

O tiro que pode matar a democracia


O tiro que pode matar a democracia
Démerson Dias


Uma pessoa usando uma arma para acionar os botões da urna eletrônica, enquanto filma a cena.
Essa imagem deveria ser alerta suficiente para qualquer pessoa que dê valor à democracia. Certamente vai correr o mundo, e pode ser o símbolo fatal dessas eleições de 2018. Não me lembro de gesto semelhante.
Algum eleitor tinha ideia que havia gente armada à paisana nos locais de votação? Alguém é capaz de achar que essa imagem tem alguma relação com espírito democrático?
Alguns podem achar o comentário exagerado, mas nunca foi tão necessário frisar que filmar o próprio voto é uma atitude ilegal. Quem gravou essa cena não é uma pessoa que respeita as leis. Mas o que mais pode passar pela cabeça de alguém usar uma pistola no momento destinado ao principal gesto cívico?
Não existe razoabilidade possível, aliás, é absolutamente contraditório alguém achar que vai aprimorar uma democracia à bala. Alguns dizem que o voto é a maior arma do eleitor, essa pessoa não acredita nisso. Essa pessoa votou em Jair Bolsonaro.
A cena é a maior prova de que democracia possui um calcanhar de Aquiles. Admite uma candidatura não democrática.
Na democracia, “o preço da liberdade é a eterna vigilância”, não existe poder que garanta de forma absoluta a condução democrática de um país. O poder, deriva do povo que o delega a seus representantes. Se o eleitor entrega esse poder a alguém que não dá valor à democracia ele, não apenas está permitindo que esse poder lhe seja retirado, como está praticando um gesto que fatalmente se voltará contra ele, direta ou indiretamente. Não existe uma única família brasileira que não tenha pelo menos um de seus membros ofendido por Jair Bolsonaro. A começar por todas as mulheres! #elenão
A grande cilada do desprezo do candidato pela democracia é que, uma vez empossado, o que o impediria de recorrer à força para ficar no poder indefinidamente? Ele já defendeu que a ditadura matasse 30 mil, defende a tortura. E seu grande herói é um homem que levou crianças para assistirem suas mães serem estupradas e torturadas. Isso é o que ele considera exemplo de virtude.
Imaginem ele, seus comparsas nas forças armadas, e também os civis que acham válido ir votar com um revolver, defendendo seu governo. Quem poderia tirar Bolsonaro do poder, inclusive porque as forças armadas obedecem ao presidente? Ninguém que votar em Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições poderá alegar desconhecimento de suas intenções.
Portanto, Jair Bolsonaro nem sequer pode ser considerado um bom militar. Aqueles defenderam a ocupação da Amazônia, este quer entrega-la a outros países. E que militar respeitável é capaz de saudar a bandeira de outro país?
Inúmeras matérias na imprensa dão conta de seu histórico de rebeldia e insubordinação. O mais provável é que sua escola tenham sido os aproveitadores, ao quais ele vem se aliando desde que chegou ao legislativo. A boa fé das pessoas é, mera escada que possibilitaram, além da multiplicação patrimonial (que ele também já alegou sonegar), a instalação de verdadeira dinastia parlamentar, que agora pretende se estender também pelo executivo.
Um dos apelos mais veementes do candidato é acabar com a corrupção. Esse raciocínio traz com ele um erro fatal para a democracia. Supondo que ele estivesse correto e 600 parlamentares sejam corruptos no país. Como já existem provas suficientes que ele próprio entra nessa estatística de corrupção, a troca de 600 corruptos por apenas um deles significa trocar 600 corruptos por um tirano. E toda tirania é a corrupção absoluta.
Mídia Ninja PE
As pessoas estão sendo iludidas a achar que ele preserva alguma virtude, e que se trata de um militar respeitável. Mas virtudes foi o que nunca teve, nem mesmo quando tenta se apresentar como miliar. Como fosse um bom exemplo.
Bolsonaro diz que defende a ditadura de 64, mas, nem os ditadores não o toleravam. Como militar, ele foi considerado “mau militar” por militares como Ernesto Geisel e Jarbas Passarinho. Ou seja, em termos de ditadura, é o pior entre os piores.



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