quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

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Por que esse natal nunca chega?

Démerson Dias


“Ou então felicidade

É brinquedo que não tem”

Boas festas - Assis Valente


Qualquer um que tenha realmente usado um segundo para reflexão sincera no natal terá sentido esse mesmo desconforto.

O natal nem chega e já passou. Aos que têm sorte porque a outros tantos natal nunca existiu, ou mora no limite do delírio.

Não detesto o natal nem quando se repete que há neve e aquele senhor idoso veste um pijama vermelho típico para o inverno enquanto experimentamos 40 graus de sensação térmica. Estou entre os afortunados para os quais o natal existiu ao longo de toda infância. História para outras narrativas.

Nada de novo há nestas minhas palavras. A certa altura, me acalentaram as perguntas de John Lennon “And what have we done?”. “E o que nós fizemos?”

Acabei me cansando da hipocrisia antes de saber por Adorno e Horkheimer sobre a “Indústria Cultural”, da “Sociedade do Espetáculo” por Guy Debord e da “Sociedade de Consumo” por Jean Baudrillard.

Meus privilégios se escancaravam quando da minha janela eu via que natal algum revertia agruras, solidões e pesares. Notava o esforço sincero e operoso com que todos à minha volta recobriam por curto tempo as marcas inevitáveis dos desnatais (https://jabuticabas.blogspot.com/2023/12/desnatal.html).

Algo formidável no advento dos LLM (vulgo IAs estatísticas) é que treinando engenharia de prompt precisamos ser explícitos. Peço uma descrição para a geração de uma imagem e a IA traduz assim o contexto:

Proposta de Ilustração: "O Reflexo do Desnatal" Composição: Primeiro Plano (O Observador): A silhueta de um homem (representando o autor) de costas, observando através de uma janela embaçada pelo calor. Ele segura um livro ou apenas observa, em uma postura de reflexão melancólica. O Reflexo na Janela: No vidro, o reflexo de uma árvore de natal excessivamente iluminada, com luzes neon artificiais e a figura de um Papai Noel de plástico suando sob o "pijama vermelho", simbolizando a Indústria Cultural. O Cenário Externo (A Realidade): Através da janela, o que se vê de fato não é neve, mas uma rua urbana sob um sol escaldante (tons de laranja e amarelo). Do outro lado da rua, pessoas comuns seguem suas vidas em "desnatais": um vendedor ambulante, alguém sentado sozinho em um banco ou o vazio de uma calçada quente, evidenciando a Sociedade do Espetáculo que ignora a realidade. Estilo Artístico: Um estilo surrealista contemporâneo ou uma pintura digital com fortes contrastes de cores (o vermelho/verde artificial das luzes contra o ocre/cinza da realidade urbana).

Uma ilustração editorial reflexiva de um homem observando o Natal de uma janela. No reflexo do vidro, vemos luzes de Natal brilhantes e artificiais e um Papai Noel comercial. Através do vidro, a realidade é uma rua brasileira sob um calor de 40 graus, com tons de ocre e pessoas em situações de solidão urbana. Estilo artístico inspirado no realismo social com um toque de surrealismo, cores contrastantes entre o neon natalino e o calor do asfalto. Clima de reflexão crítica ao vazio opulento do natal mercantil."

Dirão os convictamente distraídos que estou entre os cínicos que turvam o olhar da realidade. Em 60 anos não haveria mais como suportar o exército de convertidos que grita “Natal” incansavelmente sem um senão sequer. E acusam os que não conseguem fechar os olhos “nem por um momento”? É exatamente esse momento que é a maldição toda.

Curtir o natal é um dos ritos que impede que ele algum dia se realize. Então, não me peçam que compactue. Cumpra se o natal ou desmonte-se a farsa!


PS: Compartilho apenas para alguns e no feed do face (meu feed, minhas regras!). Uma das angústias que tenho no natal é o consenso pela hipocrisia. Não sou pessimista, só me recuso a ser otimista a qualquer custo. Démerson Dias. 24/12/25 13:29 – 22.000,98934

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