quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Não é a vida que me cansa


A vida em si não me cansa

O cansaço é o embotamento pelas futilidades

Estamos soterrados por sentidos fúteis

Como se diz, uma carência brutal de sinceridades

E não é que as pessoas queiram ser falsas

Sentem necessidade de serem outros

Esses outros inalcançáveis nos perdem das pessoas mesmas


Então, me cansa a ausência de tantas pessoas

Que buscando ser outra coisa

Desaparecem delas mesmas

Deixando lacunas inescapáveis

E que, quando as buscamos, 

Só encontramos um outro em seu lugar

Vazio delas mesmas

E a quem não mais reconhecemos


E ao deixar de encontrar os outros

Os tantos a quem dirigimos afetos

O que enviamos retorna em vazios

Onde silêncios expressam as ausências

E o que retorna não é apenas desconexo

É um avesso em que não sentimos 

mais que nossas próprias expectativas ecoadas

E encolhidas pelo perdimento do que já não está


Cansa-me, então, essa jornada de desencontros

Que resultam de embalos, anelos que lançamos embalde

Em que nos perdemos não porque outros não estão

Mas porque estão onde não há mais encontros

Desperdício, perdição e descaminhos

E como seguir quando a chegada não está mais onde se espera,

E nossa busca nos leva onde não queremos estar?

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