terça-feira, 28 de maio de 2019

Épica

Démerson Dias
Para Maria Cecília Vicente de Azevedo
Somos tuaregues, ianomâmis e mexicas;
Salvador Dali - Niño geopolítico observando
el nacimiento del nuevo hombre (1943)
andamaneses, inuits, bantus e mongóis.
Flor do umbigo da Pangéia, somos cosmonautas.
Somos aquele um que nunca quis existir
antes de ser mais, antes de ser nós.
Somos os corpos mortos, e ressuscitados pelo Ganges.
Ĉiuj parolas esperante
Antropoversalidade.
Somos os leprosos, os virtuosos, os assassinos e os vencedores
Somos os deuses paridos em mocambos,
que são mais ricos que palácios erguidos por mãos escravas.
Deuses, assim, livres.
O eu é uma verdade desejável, mas irrealizável.
Encontrado em momentos tão fugidios
que nunca mais serão os mesmos das ilusões,
prenhes de memórias, perenes nas cicatrizes, e volúveis nos desejos
Eis-nos aqui, nus, cobertos por madrepérolas,
ou inundados pelo sangue avassalador dos nossos inimigos.
Nosso próprio sangue.
Não somos múltiplos, somos todos,
e seremos ainda mais, conforme se toquem as nossas diferenças
Somos frutos do orgasmo e do açoite,
encantados pelos germes, revelados pelas vergonhas
e inocentes pelos nossos anseios.
Somos a mãe d'água, terra livre e lavas em fúria.
Somos o gelo em que, no calor, se diluem nossas dores
Filhos da morte, ideais das revoluções
Sonolentos nas tempestades
Somos as amebas incansáveis rasgando a carne do cosmos
para inventar o próprio sangue
Somos o nada que não desistiu
De ser todo.

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