sábado, 21 de maio de 2011

Elegia de um tempo não vindo

É que vez em quando deparamo-nos com um destempo.
Como se uma solerte, traiçoeira divindade tivesse cindido as horas.
E inserido um nada em meio a uma incógnita.
Um reverso de deja vu.
Algo que passa e não percebemos.
E a esse desnotar se somasse o estranhamento de um passado esdrúxulo.
Como um dia, estranho, vago.
Se alguém souber como repor um dia que passa, suplico, me avise.
Pensando bem, acho que há uns 10 anos nesses 45 que mereciam ajustes.
A questão não é de se repassar a vida, nem reclamar dos feitos e ausências.
Sim, admito algum sussurro de compulsão perfeccionista.
Mas, ora, nem tratar-se ia de desvelar imperfeições recônditas ou explícitas.
Nem mudar rumos, cenários ou desterros.
O que me assalta são pequenos lapsos de lucidez, suponho.
Em que se esvaem entre os dedos pequenos catalisadores de acertos.
E, assim, como num suspiro, notamos escapar, tardiamente, um relance.
Não, menos, uma fagulha de acontecimento,
Que poderia, talvez, tornar o tenso em firme.
A languidez em ternura.
O grito em certeza serena.
Um não, em leque de possibilidades.
Não, não!
Nada da ambição tosca e inócua de mudar as grandes correntes do tempo.
Nem anular os erros que nos fazem crescer, mais do que mil elogios.
Os impasses ficam mesmo por entre os acertos e erros.
Momentos que não são decisivos a ponto de mudar o rumo das coisas,
Nem o deleite vadio que antecipa a precipitação entre mar bravio e a rocha.
Trata-se daquele tempo em que não fizemos nada,
Pois nada havia para ser feito.
Mas onde justamente poderíamos ter estado atentos,
Para o turbilhão da vida que nos assola desprevenidos.
Privando-nos do tento para alcançar as variáveis possíveis.
Não todas, mas justo aquela que nos deslindaria o passar dos tempos.
O tempo que perdemos, mas não soubemos a tempo de que se tratava.

Um comentário:

Xi, francisquinho, deitaram a língua na jabuticaba!