Ilusões do Paraíso
Por Démerson Dias
Christian Rex Van Minnen - 2012 |
O capítulo da posse ainda não se encerrou e alguns setores já se deparam com a "surpresa" das práticas da ditadura sob nova direção. Os jornalistas foram tratados como as crianças reféns da pobreza nas periferias do país, acomodados em chiqueirinhos, transportados como escolares e tendo que levantar a mão e esperar na fila para ir ao banheiro. E, principalmente, não podiam circular por qualquer lugar.
A atualização do cenário é que tiveram que levar lanchinho pois a escola sem caráter não serve mais merenda, o dinheiro público não se presta a isso, há gente gananciosa demais para que a merenda chegue às escolas. Vícios públicos, benefícios privados. Apenas um upgrade do tucanato paulista.
Os dois aspectos que se destacam na posse são a paranoia pela segurança e o tratamento anti profissional, via de regra truculento. Com direito a trovinha homofóbica no ministério dos direitos dos humanos de bem.
É compreensível a reclamação dos profissionais da imprensa, mas a reação dos representantes do novo pretor não deveriam surpreender. São condizentes com o que qualquer um que tenha tido um mínimo de atenção seria capaz de antever. Não existe profissionalismo na nova gestão, nem muito menos será uma gestão pública. É uma gestão para os amigos, aos inimigos, restam as leis que serão corrigidas para deixar mais claro o desprezo governamental.
Reclama também a imprensa de uma suposta censura ao COAF. A democracia é uma beleza, mas tem certos custos, 57 milhões de brasileiros, inclusive os patrões dos jornalistas e vários deles, se empenharam para que o país chegasse a isso. Deveriam comemorar, não contestar. Aliás, apoiaram um candidato que não admite contestação.
Entendo a dificuldade dos profissionais da mídia e até posso me solidarizar com eles, mas o país escolheu essa via e o percurso não será breve. Ao optar por andar para trás, teremos que refazer todo o caminho rumo à democracia mitigada que encontrávamos em governos anteriores, que eram democráticos apesar da mídia, não por conta dela. Nos últimos anos, aliás, a mídia valeu-se de esquemas de favorecimentos e informações privilegiadas. Inclusive obstruiu a investigação de seus sócios como Carlinhos Cachoeira. Fazem parte do conluiu.
Para quem apoiou a eleição dos Coisonaros não cabe falar contra a censura, é regra na democracia burguesa que formações delicadas e nocivas ao centro do poder sejam tratadas com sigilo. É compreensível o desconforto, mas não a surpresa.
Houve reclamações de que o pretoriado iria eleger apenas os veículos amistosos para repassar informação e verbas. Reclamações absolutamente injustificadas. Liberdade de expressão é prerrogativa dos direitos humanos a atual dinastia foi eleita em campanha contra os humanos. Bandido bom é bandido morto, imprensa boa é propaganda.
Ademais, em que momento o novo pretor jurou ser delicado e gentil? Toda sua vida pública foi pautada pela agressividade, tergiversação e platitudes.
O que seria o cúmulo do absurdo é se de uma hora para outra os Coisonaros fingissem ser civilizados. Se isso ocorrer deveriam ser depostos.
As coisas haverão de piorar muito antes que alguém convença os bárbaros de que isso aqui deveria ser um país civilizado. Essa é a hora deles, abençoados por milhões de pessoas e de grana, inclusive em moeda estrangeira.
Em tempo: o que sobrou de gente civilizada no país, ainda está imaginando como fazer para transmutar a truculência em democracia. Por enquanto, são as pessoas de bem que estão no comando.
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Xi, francisquinho, deitaram a língua na jabuticaba!