Bolsonaro deveria explicar o assassinato da Marielle
por Démerson Dias
Foi lugar comum na mídia mencionar “medo” entre as razões de Jean Wyllys para deixar o próximo mandato e o país. Medo ajuda na nossa preservação, é importante.
No anúncio que faz, Jean Wyllys vai bem além do medo, mas deixa claro que medo não é a parte determinante nessa decisão. Mas poucos querem ir além de um lugar comum.
Por exemplo, o pólo oposto ao medo está a covardia de um exército de idiotas que, por serem capazes de expressar sua estupidez de forma violenta, acham que possuem algum valor, poder ou autoridade.
Wyllys está melhor preparado para notar a extensão do que a mídia fez questão de omitir ao longo da semana.
A família Bolsonaro possui ligações íntimas com as milícias e foram as milícias que mataram Marielle Franco e Anderson Gomes.
Isso significa que existem respingos de sangue que subiram a rampa do Planalto junto com a gangue/famiglia/quadrilha que foi levada ao poder pelos 57 milhões de brasileiros que ainda não entenderam o que significa democracia.
E porque existem as milícias?
Por que um bando de covardes mentecaptos, principalmente nas forças armadas, ao longo da bandalheira instalada a partir de 1964 tinha uma necessidade sobrenatural de afirmar sua suspeita virilidade criando as iniciativas em torno da chamada esquadra Le Coq.
Bandidos que se sentiram desprestigiados e outros que tornaram-se viciados em sadomasoquismo e passaram a depender de doses cada vez mais intensas de prazer diante do terror alheio.
Uma pessoa saudável que tivesse mandato parlamentar no Rio de Janeiro e relações com o tema da segurança deveria assumir como fracasso o franco descaso do país com os regimes de insegurança.
Wyllys não está tomando uma decisão exclusivamente por conta do medo. Mas a causa principal é a covardia das pessoas do convívio do atual governo que sobrevivem dos subprodutos da violência em escala industrial que toma conta do poder.
E a mídia está muito pouco interessada a contar essa história.
Era, se não me engano, 2006 quando o crime informal decretou toque de recolher em São Paulo. A boca pequena se comenta que o tucano emplumado que ocupava o governo conseguiu um armistício com a área de segurança informalizada representada pelas organizações como PCC. Não é minha área, portanto deixei de acompanhar os desdobramentos.
Mas em 2016 ao mesmo tempo em que Michel Temer promove o golpe de estado contra o país e Dilma Rousseff, tem início uma conflagração entre segmentos desse verdadeiro departamento de organizações criminosas que entram em disputa pelo controle dos presídios e crimes no norte e nordeste do país. Pelo visto sul, sudeste e centro-oeste já possuem seus acordos “intergovernamentais”.
A primeira atividade social em escala ocorrida no Governo de Bolsonaro é a transformação do Ceará em tabuleiro de guerra pela organização da “segurança informal” do país. Não parece acaso terem colocado Moro na área à qual está subordinada a segurança do país. Ele já demonstrou ser um especialista em facilitar a vida dos criminosos transferindo a outros a responsabilidade pelos crimes de seus protegidos.
A grana dos laranjas, goiabas, açaís comove e ocupa lugar no debate nacional, mas o movimento mais consistente do governo é a acomodação dessas instituições paramilitares no âmbito dos espaços de poder do país.
Aliás, a própria intervenção no Rio parece ter correspondido à tomada de partido por parte dos facilitadores em cargos públicos para uma solução, ou tomada hostil do controle do crime/segurança informal.
O risco maior é que a especialidade maior da família do revólver em punho seja exatamente prestar assessoria para um conluio definitivo entre as instâncias formais de governo e os interesses de setores que sobrevivem pela omissão do país em garantir um contexto de civilização em que as coisas não se resolvem na ponta da faca, ou da bala.
Fico propenso a achar que Marcola teria sido uma escolha bem mais civilizada. De saída, até em Davos ele seria capaz de fazer melhor 6'38". Se é pra chamar os especialistas, melhor que sejam os mais competentes. Eles, inclusive não custam tão caro.
Muito além de atos indeterminados que levaram Lula à cadeia, estão atos determinados que garante que a as organizações da criminalidade, a família Bolsonaro e os executantes de Marielle e Anderson façam, parte de um mesmo conglomerado. E agora estão “no poder” como nunca antes. O Brasil não rompeu com a corrupção, atolou-se nela de corpo e alma e agora pela sua facção mais grotesca, aquela para quem encomendar a morte é mais simples do que autorizar uma transação bancária de R$2000 reais. E bem mais barato que isso, também.
Bolsonaro e seus comparsas, nós já sabemos.
Mas e nós? De que lado você está na política do ódio? Não se engane, quem não está com eles, está, ou estará, certamente, sob sua mira.
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Xi, francisquinho, deitaram a língua na jabuticaba!