Caiu a árvore que estava podre
Démerson Dias
Démerson Dias
Ia como a cidade, garoento e frio.
Frio indeciso, entre o corte e o abraço
Ainda vivo a caminho da morte
Assim o decretava o progresso
Tão espelhado e ágil, quanto torpe
Do viaduto, um grito em luz que me alertava
Caiu a árvore que estava podre!
Céticos verdes ainda nos troncos,
Aquele grito em luz tal qual um verde em fuga
Cujas sombras não mais se notava
bailando em vento, ornamento ou valsa
A cidade que amanhecia não era honesta
Era impura e vil, quase cruel
Só não era tanto porque esperança
Que não é a cidade que tortura as almas
Pessoas, sim, às almas e árvores
Árvores, cidades, esperanças
A sina da árvore em nada era incomum
Só não existia, até que caiu
E de seu nada se fez transtorno
Memória agora, quem não se sabia planta
Não que a árvore fosse gentil
O gentil da hipocrisia, não
Privada do silêncio eloquente
De quem não a reconhecia viva
E que miserável é uma tal cidade
Em que só se existe ao morrer
Minha cidade apodreceu a árvore
Ou quanto de mim não será que a derrubou
E o que assim, de mim, de nós, com ela
Também não apodreceu com a queda
Estava podre a árvore em nós?
Texto raiz...
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