terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Caiu a árvore que estava podre


Caiu a árvore que estava podre
Démerson Dias

Ia como a cidade, garoento e frio.
Frio indeciso, entre o corte e o abraço
Ainda vivo a caminho da morte

Foto: Démerson Dias
Mais morte havia na cidade impura e vã
Assim o decretava o progresso
Tão espelhado e ágil, quanto torpe

Do viaduto, um grito em luz que me alertava
Caiu a árvore que estava podre!
Céticos verdes ainda nos troncos,

Aquele grito em luz tal qual um verde em fuga
Cujas sombras não mais se notava
bailando em vento, ornamento ou valsa

A cidade que amanhecia não era honesta
Era impura e vil, quase cruel
Só não era tanto porque esperança

Que não é a cidade que tortura as almas
Pessoas, sim, às almas e árvores
Árvores, cidades, esperanças

A sina da árvore em nada era incomum
Só não existia, até que caiu
E de seu  nada se fez transtorno

Memória agora, quem não se sabia planta
Não que a árvore fosse gentil
O gentil da hipocrisia, não

Foto: Nelson Antoine/Estadão Conteúdo/Veja SP
Assim também o barranco no qual pendia
Privada do silêncio eloquente
De quem não a reconhecia viva

E que miserável é uma tal cidade
Em que só se existe ao morrer
Minha cidade apodreceu a árvore

Ou quanto de mim não será que a derrubou
E o que assim, de mim, de nós, com ela
Também não apodreceu com a queda

Estava podre a árvore em nós?

Um comentário:

Xi, francisquinho, deitaram a língua na jabuticaba!