O tiro que pode matar a democracia
Démerson Dias
Uma pessoa usando uma arma para
acionar os botões da urna eletrônica, enquanto filma a cena.
Essa imagem deveria ser alerta
suficiente para qualquer pessoa que dê valor à democracia. Certamente vai
correr o mundo, e pode ser o símbolo fatal dessas eleições de 2018. Não me
lembro de gesto semelhante.
Algum eleitor tinha ideia que
havia gente armada à paisana nos locais de votação? Alguém é capaz de achar que
essa imagem tem alguma relação com espírito democrático?
Alguns podem achar o comentário
exagerado, mas nunca foi tão necessário frisar que filmar o próprio voto é uma
atitude ilegal. Quem gravou essa cena não é uma pessoa que respeita as leis.
Mas o que mais pode passar pela cabeça de alguém usar uma pistola no momento
destinado ao principal gesto cívico?
Não existe razoabilidade possível,
aliás, é absolutamente contraditório alguém achar que vai aprimorar uma
democracia à bala. Alguns dizem que o voto é a maior arma do eleitor, essa
pessoa não acredita nisso. Essa pessoa votou em Jair Bolsonaro.
A cena é a maior prova de que democracia
possui um calcanhar de Aquiles. Admite uma candidatura não democrática.
Na democracia, “o preço da
liberdade é a eterna vigilância”, não existe poder que garanta de forma
absoluta a condução democrática de um país. O poder, deriva do povo que o delega
a seus representantes. Se o eleitor entrega esse poder a alguém que não dá
valor à democracia ele, não apenas está permitindo que esse poder lhe seja retirado,
como está praticando um gesto que fatalmente se voltará contra ele, direta ou
indiretamente. Não existe uma única família brasileira que não tenha pelo menos
um de seus membros ofendido por Jair Bolsonaro. A começar por todas as
mulheres! #elenão
A grande cilada do desprezo do
candidato pela democracia é que, uma vez empossado, o que o impediria de recorrer
à força para ficar no poder indefinidamente? Ele já defendeu que a ditadura
matasse 30 mil, defende a tortura. E seu grande herói é um homem que levou
crianças para assistirem suas mães serem estupradas e torturadas. Isso é o que
ele considera exemplo de virtude.
Imaginem ele, seus comparsas nas
forças armadas, e também os civis que acham válido ir votar com um revolver,
defendendo seu governo. Quem poderia tirar Bolsonaro do poder, inclusive porque
as forças armadas obedecem ao presidente? Ninguém que votar em Jair Bolsonaro
no segundo turno das eleições poderá alegar desconhecimento de suas intenções.
Portanto, Jair Bolsonaro nem
sequer pode ser considerado um bom militar. Aqueles defenderam a ocupação da
Amazônia, este quer entrega-la a outros países. E que militar respeitável é
capaz de saudar a bandeira de outro país?
Inúmeras matérias na imprensa dão
conta de seu histórico de rebeldia e insubordinação. O mais provável é que sua
escola tenham sido os aproveitadores, ao quais ele vem se aliando desde que
chegou ao legislativo. A boa fé das pessoas é, mera escada que possibilitaram,
além da multiplicação patrimonial (que ele também já alegou sonegar), a
instalação de verdadeira dinastia parlamentar, que agora pretende se estender
também pelo executivo.
Um dos apelos mais veementes do
candidato é acabar com a corrupção. Esse raciocínio traz com ele um erro fatal
para a democracia. Supondo que ele estivesse correto e 600 parlamentares sejam
corruptos no país. Como já existem provas suficientes que ele próprio entra
nessa estatística de corrupção, a troca de 600 corruptos por apenas um deles
significa trocar 600 corruptos por um tirano. E toda tirania é a corrupção
absoluta.
Mídia Ninja PE |
As pessoas estão sendo iludidas a
achar que ele preserva alguma virtude, e que se trata de um militar
respeitável. Mas virtudes foi o que nunca teve, nem mesmo quando tenta se
apresentar como miliar. Como fosse um bom exemplo.
Bolsonaro diz que defende a
ditadura de 64, mas, nem os ditadores não o toleravam. Como militar, ele foi
considerado “mau militar” por militares como Ernesto Geisel e Jarbas
Passarinho. Ou seja, em termos de ditadura, é o pior entre os piores.
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Xi, francisquinho, deitaram a língua na jabuticaba!