domingo, 27 de maio de 2018

Esqueçam a narrativa, vamos conquistar a história


   Houve um tempo em que achei a pós-modernidade bizarra.    Politicamente correto, ficha limpa, vida saudável.
   Politicamente correto é uma aberração, as pessoas precisam respeitar uma às outras, ponto! Ficha limpa é o espoliado pelo Estado dar ao Estado o poder de dizer em quem ele pode, ou não votar. 100% dos piores bandidos do país tem justiça e polícia no bolso, são imaculados.
   Por vida saudável as pessoas conceberam um modelo em que continuam se matando no trabalho, são resilientes ao assédio moral,  pagam mais caro pelo que comem e passam a madrugada fazendo "fitness". Sem esquecer a sagrada combinação das cores da roupa.
   O mundo caiu em desgraça em 2007. Sem a União Soviética para incomodar, o capitalismo reinou sozinho e, em meros quinze anos levou o planeta à beira do abismo. E saltou!
   Veio a pós-verdade, uma medíocre tática do marketing que, aprimorando Goebbels, dá status de verdade às mentiras mercadológicas. Um produto que não serve para nada, vira a salvação para todos os males. Pós-verdade é o prenome do "fakenews".
   Assim segue sendo com a política. O facínora se diz santo, basta afirmar. Não é preciso prova, basta a convicção. Se necessário existem fiéis de qualquer versículo ou preço pra corroborar a crença.
   O pais tem o pior governo de sua história. Cada medida que anuncia é uma calamidade. Mas as pesquisas nunca vão aferir a verdade, porque estão limitadas aos números naturais. Tampouco comportam pós-ódio, por exemplo. Porque o ódio é a nova forma de convivência social. Agora Narciso odeia o que não é espelho. A mídia nada irá denunciar, é sócia dos que estão lucrando com a miséria crescente do país rumo à insolvência.
   A ditadura militar e a tortura eram farsa, até que a CIA divulga as provas do conluio. Nossa, que espanto! Não fazia ideia! Geisel? Um luterano de nobre estirpe!?
   Aliás, Geisel? Norquisa? Chegamos à greve dos caminhoneiros.
   A esquerda tem dificuldade de enxergar a realidade e as saídas possíveis. Negligenciamos por tempo demais o poeta Eduardo Alves da Costa que "caminhou" com Maiakovski. Poetas no mais das vezes são profetas. Deixamos de dizer quando era necessário, agora nos roubam a voz da garganta.
   Os que estiveram no poder acreditaram no conto de fadas varguista de que a conciliação é possível. Os que estiveram fora não foram capazes de construir um projeto alternativo independente.
   Ficamos brincando de democracia burguesa e agora que o neoliberalismo flerta com o fascismo conseguimos, no máximo, ficar inconformados. Alguns se dão ao luxo de nem sequer acreditar. O equívoco é acharmos que nós é que precisamos defender a democracia burguesa.
   Nem de longe sou a melhor pessoa para lançar fagulhas, mas, como o passarinho levando água no bico para aplacar o incêndio, defendo que   é preciso parar de acreditar e disputar narrativas. Narrativa é pós-verdade. É o “status quo” que só muda para pior, mas precisa se reinventar para dissimular seus vícios.
   É o marketing que a todo momento nos bombardeia com a verdade do dia, seja nas manchetes dos jornais, seja nas campanhas em que a vida é bela. Horóscopos tinham mais serventia.
   Nossa referência é a história. Aquela que, sabemos, só se transforma com base em esforço, suor e sangue.
   A paralisação dos caminhoneiros expõe de uma vez por todas a falência republicana. Um país que sucumbiu ao lobby do capitalismo e permitiu que o meio rodoviário tivesse o monopólio do escoamento das mercadorias, que beneficiou empreiteiras e metalúrgicas.
   Para atender ao locaute, legislativo e executivo (esse cada vez mais cambaleante) atendem à voracidade patronal. Satisfeitos esses apetites, ficaram apenas os peões da boleia, desatendidos, desrespeitados e, como sempre, à margem. Aí o governo espúrio convoca o judiciário para fazer parte do conluio que pretende massacrar a classe que vive do trabalho sob a esteira dos tanques. O governo ilegítimo conclama à guerra civil.
   Os setores que levaram Temer ao poder pretendem avançar até que o pais possa ser anexado por algum cafetão do primeiro mundo. BPM  - Brasil Puxadinho de Miami Inc.
   O campo reacionário do país se presta a uma política que deixaria qualquer meretriz corada de vergonha.
   Se permitirmos, irão realmente solapar as eleições. É o que resta de democracia formal. O resto é pura exceção abençoada por 11 fantasma togados que decretam qual constituição está em vigor.
   Diante disso acho que, já que a questão é quem vai sequestrar a democracia, é melhor que sejamos nós.
   Se necessário, disputando nas ruas! As ruas eram monopólio da esquerda desde as Diretas Já. Vamos tomar de volta! O que a gente precisa lembrar que é a rua não é da ordem, é da rebelião, da guilhotina.
   Os panelaços são propriedade histórica dos famintos por comida, dignidade e justiça.
   Por isso aquelas panelas de verde amarelo eram de teflon soaram apenas das varandas dos condomínios. Vamos retomar também o som das panelas sequestrado. Vamos moralizar o país cujo símbolo de virtude é um cafetão escravagista e sonegador, estuprando suas funcionárias sob o manto das togas e distribuindo cerveja. Uma reedição do pão e circo. Afiemos nossas guilhotinas.
   Não é de greve que precisamos, é de insurreição.

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