A vida em si não me cansa
O cansaço é o embotamento pelas futilidades
Estamos soterrados por sentidos fúteis
Como se diz, uma carência brutal de sinceridades
E não é que as pessoas queiram ser falsas
Sentem necessidade de serem outros
Esses outros inalcançáveis nos perdem das pessoas mesmas
Então, me cansa a ausência de tantas pessoas
Que buscando ser outra coisa
Desaparecem delas mesmas
Deixando lacunas inescapáveis
E que, quando as buscamos,
Só encontramos um outro em seu lugar
Vazio delas mesmas
E a quem não mais reconhecemos
E ao deixar de encontrar os outros
Os tantos a quem dirigimos afetos
O que enviamos retorna em vazios
Onde silêncios expressam as ausências
E o que retorna não é apenas desconexo
É um avesso em que não sentimos
mais que nossas próprias expectativas ecoadas
E encolhidas pelo perdimento do que já não está
Cansa-me, então, essa jornada de desencontros
Que resultam de embalos, anelos que lançamos embalde
Em que nos perdemos não porque outros não estão
Mas porque estão onde não há mais encontros
Desperdício, perdição e descaminhos
E como seguir quando a chegada não está mais onde se espera,
E nossa busca nos leva onde não queremos estar?
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