O MOROGATE revelado e o fim estrondoso do delírio de uma república curitibana
Démerson Dias
Uma das coisas que a burguesia sabe fazer melhor é cálculo político. São pelotões de especialistas que investigam milimetricamente perdas e ganhos em toda e qualquer conjuntura.
Moro e seu conje, Dallagnol, estão formalmente desconstruídos. Por algum tempo, será difícil conquistarem até o cargo de síndico de prédio. Não porque tenham errado, mas porque foram pegos. E a regra geral no capitalismo é que os serviçais servem pra isso mesmo. Serem pegos no lugar dos seus mandantes ou tutores.
Sempre existem possibilidades de se criarem atenuantes. Mas tanto minha leitura objetiva, quanto minha disposição afetiva, prevêem um desmantelamento espetacular de Sergio Moro. Plenamente merecido, a meu ver.
Um erro primário cometido por Moro foi esquecer que inflar em demasia seu valor e capacidade o projetaria para uma camada política que seria fatal caso perdesse sustentação. E a assustadora inabilidade (somada a arrogância equivalente) contribui para que Moro e sua trupe não tenham pontos de apoio e sustentação suficientes para evitar um estraçalhamento profundo.
A vaidade agrava a situação específica de Moro. Caso ainda fosse juiz, o pacto corporativo lhe garantiria uma blindagem natural, poderia contar, inclusive com a aposentadoria que é a pena máxima admitida a um magistrado. Seria difícil mantê-lo na atividade porque o escândalo atinge habilitação inerente ao cargo: a imparcialidade. Ao ser flagrado Moro tornou-se imediatamente inapto à atividade. Mas isso já é fábula.
Outro sinal de que a Lava jato pode ter perdido respaldo está nos próprios organismos que orbitam a recomposição conservadora. O conluio era de conhecimento geral, mas sua exposição invoca a necessidade de preservar as aparências.
Parece um preço alto a pagar sair em defesa dos estafetas jurídicos, inclusive porque os benefícios da investigação vão perdendo vitalidade e esbarrando com círculos cada vez mais internos do poder real.
Dentre os raciocínios embutidos nos cálculos está a redução de danos. É imprescindível que um problema pontual não contamine todo o sistema.
Bem entendido, o problema não é a corrupção inerente à interferência indevida de Moro nas apurações do Ministério Público, mas que esse expediente tenha sido exposto. A manifestação de um magistrado em circunstâncias parecidas é sempre sentença preventiva. É melhor cortar na carne da lava jato do que deixar o escândalo gangrenar e colocar sob suspeição toda a magistratura e as demais articulações em andamento. Trata-se de salvar os dedos disponibilizando os anéis.
A corporação judicante contou com a pronta manifestação do desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo Alfredo Attiê. Não precisava ser mais explícito: “coloca o sistema Judiciário em descrédito”.
Na ritualística judicante, a magistratura está sinalizando que Moro não representa um risco aceitável. Suponho que seja simples entender que o desembargador não fala em nome próprio, mas da corporação.
Outro indício eloquente, a Ajufe, Associação de Juízes Federais não aderiu ao discurso de vazamento criminoso o que, somado à declaração de autenticidade de Moro, indica que está lavando as mãos em vista do contexto alheio à defesa das prerrogativas dos seus associados.
Para Moro, o vazamento tem a vantagem de, praticamente, inviabilizar sua condenação criminal. E Dallagnol, convenhamos, sempre foi o arauto júnior que dependia dos precários e imprecisos conselhos do agora pseudo-ex-magistrado. As chances de que o Conselho do Ministério Público queira se embrenhar numa lavação de roupas pública em pleno processo sucessório do novo PGR é escassa. Sem prejuízo de que a situação evolua após a sucessão de Raquel Dodge.
No cenário “interna corporis” o que ainda é incerto, embora com solução nas próximas horas, é como o Supremo Tribunal Federal irá atuar institucionalmente. Toffolli tem sobre si um dilema, patrocinou uma iniciativa de perseguição contra aqueles que contestam a reputação da corte que preside, mas tem sobre sua cabeça a tutela militar a quem não interessa a imolação de Moro. De outro lado, Gilmar Mendes não deverá encontrar oportunidade mais apropriada para um ajuste de contas com o lavajatismo.
Moro talvez aprenda a pior lição de sua vida: ele nunca foi mais do que descartável.
Dallagnol, talvez, nem isso. Sempre haverá um púlpito e fiéis condescendentes, sua carreira jurídica talvez tenha acabado. Moro, se ao menos garantiu o seu greencard, pode ir se socorrer em Langley, na Virgínia. E, se o fisco estadunidense permitir, terá um vizinho igualmente criativo com quem trocar inconfidências.
A mídia comercial demonstrou fragilidade diante do bombardeio do The Intercept. E a Folha, que costuma ter o melhor senso de oportunidade nesses casos, está sendo quase implacável. Vai saber o tipo de ajuste de contas que tem interesse em fazer.
O jornalismo capitalista foi absolutamente incompetente para expressar, no mínimo, uma fumaça de imparcialidade, alguns tentam parasitar o vigoroso trabalho jornalístico do The Intercept. Mas são, em essência, incapazes de colocar o problema na dimensão devida.
Essa mídia mercante, no máximo, pretende transformar a crise em novelão romântico, com mocinhos virtuosos e bandidos perversos. Inclusive tratando bandidos como mocinhos e vice-versa.
Aos socialistas, não convém cederem à ingenuidade em relação a ditadura burguesa, vulgo, “democracia burguesa”.
Infelizes os que enxergaram qualquer fiapo de virtude no ex-führer her doktor Moro e seu Reich. Que, aliás, acaba de derreter.
O interesse principal para a burguesia nacional quanto à Lava jato foi tirar o lulismo do páreo. Já, mantê-lo preso é uma questão de custo benefício.
Lula, por sua vez, já demonstrou que está focalizando todo seu empenho na derrota dos operadores da lava jato, somente. Pena poupar de sua indignação os mandantes, dentre os quais, no mínimo, a CIA e o Departamento de Estado Estadunidense, a mídia comercial obscena e o rentismo nacional.
Lula pode, inclusive ser útil nas difíceis transições que se apresentam no futuro próximo, até mesmo para fechar novo acordo de governabilidade, a exemplo do que o PT fez com Temer e os golpistas.
Lula já insinuou que sua divergência, por exemplo, com a reforma da previdência é de grau, não de princípio.
Não descarto que a burguesia disponibilize a liberdade de Lula, neste momento, como forma de inviabilizar uma articulação progressista de amplitude que se contraponha ao rentismo.
A exploração diversionista da crise pode dar ao governo algum fôlego para negociar, nas sombras, os acordos junto ao legislativo.
A desconstrução da lavajato possui outra vantagem, abre um novo fôlego para recomposições e acertos da pauta governista com o legislativo. Mostrar a grana não é suficiente, quanto antes estiver em poder dos destinatários, maior a segurança e agilidade. E o vazamento disponibiliza uma pauta diversionista que qualquer político minimamente experimentado faria, não apenas uma limonada. Faria bolo, torta e ainda sobraria limão para uma mouse.
Claro que político experimentado não é algo que pensemos ao lembrar o nome Bolsonaro que em trinta anos sequer foi capaz de ser referência no baixo clero.
No entanto a crise é formidável para o oportunismo de Rodrigo Maia cujo silêncio, em hipótese alguma, significa comedimento. Em silêncio ele é muito mais eficaz do que quando fala. Comparando ele com Bolsonaro, Maia é capaz de dar três voltas em torno do presidente antes que esse perceba que ele se moveu. Falo por experiência e isso não é exatamente um elogio a Maia, que já chegava no Congresso em 98 como gestor político, além da herança política familiar.
Corrupção é uma questão estrutural jamais será equacionada em tribunais. Onde existe miséria patrocinada e onde existe disputa de poder, existe corrupção. Sendo que a corrupção que envolve dinheiro é a mais superficial. A corrupção ideológica, essa sim, está na raiz os problemas
Se tiver uma fração da inteligência que proclama, Moro vai entender de forma exemplar porque é preciso escolher com prudência seus inimigos. Na luta contra Golias, Sansão tinha, ninguém menos que deus, a seu favor. Já os caramujos têm muito pouca chance numa disputa contra um sapato.
Pensando melhor, talvez eu esteja sendo presunçoso. Às vezes, observando o percurso cognitivo de Sérgio Moro tenho a impressão que ele vai voltar ao seu anonimato, sem ter dimensão do que foi capaz de ter nas mãos e perder, por absoluta indigência intelectual.
Démerson Dias
Reprodução / Sindicato dos Rodoviários |
Moro e seu conje, Dallagnol, estão formalmente desconstruídos. Por algum tempo, será difícil conquistarem até o cargo de síndico de prédio. Não porque tenham errado, mas porque foram pegos. E a regra geral no capitalismo é que os serviçais servem pra isso mesmo. Serem pegos no lugar dos seus mandantes ou tutores.
Sempre existem possibilidades de se criarem atenuantes. Mas tanto minha leitura objetiva, quanto minha disposição afetiva, prevêem um desmantelamento espetacular de Sergio Moro. Plenamente merecido, a meu ver.
Um erro primário cometido por Moro foi esquecer que inflar em demasia seu valor e capacidade o projetaria para uma camada política que seria fatal caso perdesse sustentação. E a assustadora inabilidade (somada a arrogância equivalente) contribui para que Moro e sua trupe não tenham pontos de apoio e sustentação suficientes para evitar um estraçalhamento profundo.
A vaidade agrava a situação específica de Moro. Caso ainda fosse juiz, o pacto corporativo lhe garantiria uma blindagem natural, poderia contar, inclusive com a aposentadoria que é a pena máxima admitida a um magistrado. Seria difícil mantê-lo na atividade porque o escândalo atinge habilitação inerente ao cargo: a imparcialidade. Ao ser flagrado Moro tornou-se imediatamente inapto à atividade. Mas isso já é fábula.
Outro sinal de que a Lava jato pode ter perdido respaldo está nos próprios organismos que orbitam a recomposição conservadora. O conluio era de conhecimento geral, mas sua exposição invoca a necessidade de preservar as aparências.
Parece um preço alto a pagar sair em defesa dos estafetas jurídicos, inclusive porque os benefícios da investigação vão perdendo vitalidade e esbarrando com círculos cada vez mais internos do poder real.
Dentre os raciocínios embutidos nos cálculos está a redução de danos. É imprescindível que um problema pontual não contamine todo o sistema.
Bem entendido, o problema não é a corrupção inerente à interferência indevida de Moro nas apurações do Ministério Público, mas que esse expediente tenha sido exposto. A manifestação de um magistrado em circunstâncias parecidas é sempre sentença preventiva. É melhor cortar na carne da lava jato do que deixar o escândalo gangrenar e colocar sob suspeição toda a magistratura e as demais articulações em andamento. Trata-se de salvar os dedos disponibilizando os anéis.
A corporação judicante contou com a pronta manifestação do desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo Alfredo Attiê. Não precisava ser mais explícito: “coloca o sistema Judiciário em descrédito”.
Na ritualística judicante, a magistratura está sinalizando que Moro não representa um risco aceitável. Suponho que seja simples entender que o desembargador não fala em nome próprio, mas da corporação.
Outro indício eloquente, a Ajufe, Associação de Juízes Federais não aderiu ao discurso de vazamento criminoso o que, somado à declaração de autenticidade de Moro, indica que está lavando as mãos em vista do contexto alheio à defesa das prerrogativas dos seus associados.
Para Moro, o vazamento tem a vantagem de, praticamente, inviabilizar sua condenação criminal. E Dallagnol, convenhamos, sempre foi o arauto júnior que dependia dos precários e imprecisos conselhos do agora pseudo-ex-magistrado. As chances de que o Conselho do Ministério Público queira se embrenhar numa lavação de roupas pública em pleno processo sucessório do novo PGR é escassa. Sem prejuízo de que a situação evolua após a sucessão de Raquel Dodge.
No cenário “interna corporis” o que ainda é incerto, embora com solução nas próximas horas, é como o Supremo Tribunal Federal irá atuar institucionalmente. Toffolli tem sobre si um dilema, patrocinou uma iniciativa de perseguição contra aqueles que contestam a reputação da corte que preside, mas tem sobre sua cabeça a tutela militar a quem não interessa a imolação de Moro. De outro lado, Gilmar Mendes não deverá encontrar oportunidade mais apropriada para um ajuste de contas com o lavajatismo.
Moro talvez aprenda a pior lição de sua vida: ele nunca foi mais do que descartável.
Dallagnol, talvez, nem isso. Sempre haverá um púlpito e fiéis condescendentes, sua carreira jurídica talvez tenha acabado. Moro, se ao menos garantiu o seu greencard, pode ir se socorrer em Langley, na Virgínia. E, se o fisco estadunidense permitir, terá um vizinho igualmente criativo com quem trocar inconfidências.
A mídia comercial demonstrou fragilidade diante do bombardeio do The Intercept. E a Folha, que costuma ter o melhor senso de oportunidade nesses casos, está sendo quase implacável. Vai saber o tipo de ajuste de contas que tem interesse em fazer.
O jornalismo capitalista foi absolutamente incompetente para expressar, no mínimo, uma fumaça de imparcialidade, alguns tentam parasitar o vigoroso trabalho jornalístico do The Intercept. Mas são, em essência, incapazes de colocar o problema na dimensão devida.
Essa mídia mercante, no máximo, pretende transformar a crise em novelão romântico, com mocinhos virtuosos e bandidos perversos. Inclusive tratando bandidos como mocinhos e vice-versa.
Aos socialistas, não convém cederem à ingenuidade em relação a ditadura burguesa, vulgo, “democracia burguesa”.
Infelizes os que enxergaram qualquer fiapo de virtude no ex-führer her doktor Moro e seu Reich. Que, aliás, acaba de derreter.
O interesse principal para a burguesia nacional quanto à Lava jato foi tirar o lulismo do páreo. Já, mantê-lo preso é uma questão de custo benefício.
Lula, por sua vez, já demonstrou que está focalizando todo seu empenho na derrota dos operadores da lava jato, somente. Pena poupar de sua indignação os mandantes, dentre os quais, no mínimo, a CIA e o Departamento de Estado Estadunidense, a mídia comercial obscena e o rentismo nacional.
Lula pode, inclusive ser útil nas difíceis transições que se apresentam no futuro próximo, até mesmo para fechar novo acordo de governabilidade, a exemplo do que o PT fez com Temer e os golpistas.
Lula já insinuou que sua divergência, por exemplo, com a reforma da previdência é de grau, não de princípio.
Não descarto que a burguesia disponibilize a liberdade de Lula, neste momento, como forma de inviabilizar uma articulação progressista de amplitude que se contraponha ao rentismo.
A exploração diversionista da crise pode dar ao governo algum fôlego para negociar, nas sombras, os acordos junto ao legislativo.
A desconstrução da lavajato possui outra vantagem, abre um novo fôlego para recomposições e acertos da pauta governista com o legislativo. Mostrar a grana não é suficiente, quanto antes estiver em poder dos destinatários, maior a segurança e agilidade. E o vazamento disponibiliza uma pauta diversionista que qualquer político minimamente experimentado faria, não apenas uma limonada. Faria bolo, torta e ainda sobraria limão para uma mouse.
Claro que político experimentado não é algo que pensemos ao lembrar o nome Bolsonaro que em trinta anos sequer foi capaz de ser referência no baixo clero.
No entanto a crise é formidável para o oportunismo de Rodrigo Maia cujo silêncio, em hipótese alguma, significa comedimento. Em silêncio ele é muito mais eficaz do que quando fala. Comparando ele com Bolsonaro, Maia é capaz de dar três voltas em torno do presidente antes que esse perceba que ele se moveu. Falo por experiência e isso não é exatamente um elogio a Maia, que já chegava no Congresso em 98 como gestor político, além da herança política familiar.
Corrupção é uma questão estrutural jamais será equacionada em tribunais. Onde existe miséria patrocinada e onde existe disputa de poder, existe corrupção. Sendo que a corrupção que envolve dinheiro é a mais superficial. A corrupção ideológica, essa sim, está na raiz os problemas
Se tiver uma fração da inteligência que proclama, Moro vai entender de forma exemplar porque é preciso escolher com prudência seus inimigos. Na luta contra Golias, Sansão tinha, ninguém menos que deus, a seu favor. Já os caramujos têm muito pouca chance numa disputa contra um sapato.
Pensando melhor, talvez eu esteja sendo presunçoso. Às vezes, observando o percurso cognitivo de Sérgio Moro tenho a impressão que ele vai voltar ao seu anonimato, sem ter dimensão do que foi capaz de ter nas mãos e perder, por absoluta indigência intelectual.
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Xi, francisquinho, deitaram a língua na jabuticaba!