segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Contorno por linhas tortas

Não tolero mais semideuses
Estou farto de sua arrogância pueril
Se é pra recorrer a divindades, que sejam plenas, inteiras
Basta de milagres incapazes, ou pela metade
Já há, afinal, metades demais na vida corriqueira
Recorremos a deuses por aspirarmos o além, não por nos bastarem as farsas
E semideuses possuem o condão de nunca alcançar, de fato, graça alguma
São sempre a expressão de algo que poderia ter sido, e se perdeu diante do próprio reflexo
Assim como uma virtude que, incompleta, sempre ocultasse uma mazela
E o universo produzisse, em soluço, algo que tem a pretensão de ser novo, mas que é incapaz de deixar de ser velho.
Nem bem nasce e está decrépito. Que, ao morrer, se torna adubo e não fertiliza.
Como um sonho em que a soberba sufoca qualquer ventura, sejam as virtudes do fracasso, ou a fortuna do saber, ou do sentir
Ainda como graça, são tristonhos, pois, embevecidos em suas nulidades e afogados em seus vazios,
São pouco mais que arremedos de qualidades exasperadas e sempre irresolutas
Nâo são belos os semideuses, não porque alcancem determinada fealdade, mas porque, incompletos, esmorecem em lugar qualquer entre o formoso e o desfeito
Mesmo como desastre, são projetos inacabados, como frases indizíveis
Não lastimemos por eles, mas também não sejamos cúmplices de suas falácias

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Xi, francisquinho, deitaram a língua na jabuticaba!