Démerson Dias
“E apesar dos pesares do mundo
... segurar essa barra
Minha saúde não é de ferro, não é não
Mas meus nervos são de aço
É pra pedir silêncio eu berro, pra fazer barulho eu mesma faço, ou não... Au!”
Rita Lee / Lee Marcucci - Jardins da Babilônia
Resumir Rita Lee é algo entre a tolice e a veleidade. Segundo alguns a mulher que vendeu mais discos no país. Isso já não seria pouco. Rita ser colocada junto com Raul Seixa como matrizes do rock nacional, talvez dê melhor a dimensão da coisa toda. Que o rock no Brasil não seria o que é sem Rita Lee, também descreve a contento, mas existem nuances relevantes.
Estamos falando de uma mulher que arrombou a festa do machismo e não me parece honesto falar de Rita Lee sem mencionar o seu papel como desbravadora (libertária, como ela talvez preferisse). Efetivamente, ela estraçalhou o machismo. Nesse sentido, rock, música, sucesso, é ímpar.
Será que alguém considera sua obra “água com açúcar”? Acho que vale mandar os críticos tomarem banho de sol, como os índios que bailam na tribo. Como se o rock fosse território frequentado pelos irmãos Campos e Schoenberg. Rock cabeça é o progressivo, Beatles não conta porque foram uma espécie de canto chão. No mais, rock é desbunde, transversalidade, transgressão.
Rita fazia a gente sacudir o corpo, a cabeça e a alma. Uma Chiquinha Gonzaga contemporânea, com toda a majestade e desenvoltura.
Não dá pra resumir, nem sintetizar. Nem devemos. A obra de Rita, além de falar por si mesma, deve ser degustada com apreço e sem moderação.
Depois que encontrou Roberto de Carvalho conseguiu um parceiro que não tentou ofuscá-la, mas valorizar o que já havia de bom (tipo, quase tudo). Provavelmente seu principal parceiro na música e (certamente) na vida. Até então, Rita sobreviveu tendo que impor seu talento em territórios intoxicados pelo machismo, nos quais ela se recusou a ser o vaso pra enfeitar o ambiente.
Desculpem-me os que preferem um exame minucioso da obra. A maior virtude de Rita foi a insubordinação de ser ela mesma. E eu nem mesmo seria a melhor pessoa para a tarefa, nunca tentei examinar Rita Lee, ela sempre foi desbunde demais para ficar pensando ou decifrando. Sua obra é auto explicável, coisa que ela , felizmente, não é.
Inclusive por isso, me recuso a pensar em minuto de silêncio, talvez um minuto de algazarra, berros, arroubos e bunda-lelê. Não dá pra chorar pela partida de Rita, temos muita música pra revisitar e, se existe algo molhado nessa partida é água na boca, porque por muito tempo ainda, teremos mania de Rita Lee.
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Xi, francisquinho, deitaram a língua na jabuticaba!