quinta-feira, 21 de maio de 2020

Funerária Bolsonaro & Filhos S/A


Funerária Bolsonaro & Filhos S/A
Démerson Dias



“Oxalá, passe algo que te apague depressa”
Silvio Rodriguez - Ojalá

Se tivermos sorte, o Brasil termina maio com 23 mil mortos pela COVID-19, termina junho com 43 mil, quando provavelmente alcançaremos a cifra de um milhão de casos (entre confirmados e suspeitos). Esse é o quadro a 65 dias desde que a primeira morte foi oficialmente notificada. Paira o temor de que as subnotificações expressem um universo de mais de 10 milhões de infectados no país, ou seja, de vetores de transmissão do vírus. O Brasil já possui o maior índice de propagação do vírus no mundo. Não esqueçamos disso no obituário e lápide dos Bolsonaros.
Se não queremos considerar formalmente 18 mil mortos em 65 dias como um genocídio (sendo que mais de 5 mil deles somente nos últimos 7 dias), no mínimo, estamos vivendo uma cruzada higienista, promovida de forma calculada pela gangue que ocupa o poder central no país e seus agregados.
Não é loucura, estupidez, ou incompetência. As mortes são programa de governo, um governo de exaltação à barbárie.
Para uma fração da sociedade, o vírus foi convertido pretexto para a guerra ideológica em curso no país. Com um desdobramento insólito: qualquer que seja o desfecho, não serão os profissionais da saúde, cientistas e o confinamento que vencerão o vírus. A oração e a determinação dos “escolhidos” nessa cruzada moral terão ao primeiro cavaleiro do apocalipse. Não existe argumentação possível contra essa constatação, já que ela não reside no terreno da razão, mas dos afetos.
Profissionais de carreira do ministério da saúde, assim como os do SUS e das secretarias locais, as áreas de medicina, enfermagem, assistência social, dentre outras, estão travando dura batalha, mas a ausência de uma diretriz central para conduzir uma política pública eficaz compromete esse esforço.
Bolsonaro realmente não é um coveiro, estes, na linha de frente, colaboram para que os mortos não tornem mais grave a pandemia se tornando agentes contaminantes. A “famiglia” no poder e seus simpatizantes são parceiros da pandemia, se aproveitam da calamidade para fazer negociatas e ampliar seu espaço de poder.
Desde a posse da gangue em 2019 as milícias estão promovendo disputa territorial como o crime organizado e ampliando suas zonas de controle, inclusive em outros estados e com apoio tático de outras forças de segurança. Crianças têm sido vítimas frequentes, pedreiros, pais, mães, escolas, transeuntes. Matam com precisão, ou com ou salva de 80 tiros. A um só tempo, guerra urbana e campo de extermínio.
Enquanto o judiciário mandou para prisão diversos políticos baseado apenas em convicções ideológicas, corpos se avolumam em torno da família Bolsonaro, desde Marielle e Anderson até as queimas de arquivo de Adriano da Nobrega e Gustavo Bebiano etc. Se Queiroz segue vivo é por ser parte da solução para a gangue. Bolsonaro já declarou que sua cifra desejável de mortes gira em torno 30 mil. Ainda não bateu essa meta, ao menos por responsabilidade direta. Mas não podemos poupá-lo dessa responsabilidade.
O Brasil vive sua própria versão de regime de terror, um governo cadavérico que se orgulha de ter mortes como conquistas de gestão. Já existiram por tempo demais tanto esse governo, quanto seus membros e simpatizantes. Merecem provar urgentemente da maldição a que condenam o país.