Quem com ferro queima quando bala se lambuza
Démerson Dias
“Essa o Homer não vai entender”
William Bonner
Parte do Brasil não sabe se está entrando no mundo do palhaço assassino, ou na hora do pesadelo. É certo que país irá despertar, seja gritando, caindo da cama, ou desmascarando o palhaço.
Precisamos torcer febrilmente para que o mundo nos enxergue como uma comédia de erros, do contrário poderemos começar a ter problemas para sair das fronteiras do país por ameaça fitossanitária. Refiro-me ao risco de acharem que o Brasil produziu em série, a primeira espécie devoradora de cérebros da humanidade. A suspeita é que os zumbis surgem quando pessoas com problema agudo de acefalia ou distorção cognitiva ameaçam e avançam contra as faculdades mentais sadias das demais pessoas.Essa pulsão supõe que alimentando-se dos cérebros alheios serão capazes de recompor os próprios. Mas é certo que isso apenas faz alastrar o problema gerando novos zumbis.
Por outro lado. a esperança de 42 milhões de brasileiros é que ao longo da primeira reunião ministerial do futuro governo o surto termine com a autofagia entre os membros da equipe e que essa endemia fique restrita ao gabinete, no máximo alcance o novo congresso.
Segundo especialistas essa é a hipótese mais alentadora. Ainda assim não se descarta que a aglomeração de tornozeleiras eletrônicas em torno do novo prócer, num recinto pequeno eletrocute a todos, ou que pelo menos a reunião avance para uma cena de pastelão e o país perceba que a eleição foi apenas um trote do primeiro de abril de 1964 que passou do prazo e foi ingerido por aqueles de inspiraram a confusão toda.
Suspeita-se que tudo começou quando uma sociedade secreta Visionários do Sagrado Excremento cujos grãos mestres são os venéreos senhores Diogo Pereira, Josias Bonner, Merval Mainardi e William de Souza convenceram seus irmãos que precisavam insuflar uma horda de mandatários que realmente facilitasse a produção de manchetes escandalosas. Um caudilho beletrista, um príncipe dos sociólogos e a maior liderança política da história recente do país não ofereceram emoções ultrajantes suficientes. Tudo foi um acidental golpe de marketing, nada além do de sempre. A mídia criando notícia.
O maior inconveniente para esse pessoal é ter que se conformar que nem sequer terão sobre quem despejar a “hashtag” “vergonha alheia”. A estupidez é obra deles com eles mesmos. Só fizeram o cara acreditar que era mito mesmo.
Pouca gente entendeu a sutileza de Bolsonaro chamar de superministro e dar a Justiça ao ex-füher de Curitiba, Sergio Moro. A mensagem é sofisticada. Fazendo justiça porque foi Moro quem ganhou a eleição tirando Lula da jogada, um candidato imbatível. É como se um juiz de futebol marcasse o gol, apontasse para o centro do gramado e prontamente encerrasse a partida. Claro que tinha que auferir o bônus da conquista.
E não se fez de rogado, já tratou de garantir a inocência de seu colega de ministério que afirmou ter embolsado caixa dois. Tudo bem, reconheceu e pediu perdão. O próprio Bolsonaro reconheceu que praticou lavagem de dinheiro através do próprio partido com uma doação da JBS. Tranquilo. Essa é uma das práticas mais elementares em governos autoritários. Aos amigos tudo, aos Lulas e inimigos, a lei.
Resta saber se Moro ainda alimenta amizade pelo tucanato deposto por João Doria. Se assim for, sabemos que os novos helicocas, ou mesmo as novas rotas de armas e drogas que utilizarão o Aeródromo de Claudio, que pertence à família de Aécio estarão sob a proteção do novo superjusticeiro. Mas ai do sem terra que levantar a enxada para capinar sem pedir licença e perdão aos posseiros amigos do poder. Também os índios de todas as etnias que fizerem arcos e flechas ornamentais. Todos potencialmente terroristas.
Assim como todo aquele que ousar enfrentar de corpo aberto os cacetetes, balas e porradas, dos milicianos e jagunços sejam oficiais ou mercenários, são todos candidatos a pena de morte sumária, como promete o juiz carioca, também da tropa bolsonaziana eleito governador.
Quem melhor que Moro, o juiz mais seletivo da história para encobrir e legitimar todo o tráfico de armas, drogas, influência e ainda atestar ao Departamento de Estado da Matriz que tudo transcorre como programado?
Essa será a faceta mais sarcástica e cínica do governo. Moro cumprirá estágio de dois anos ali e pousará no Supremo Tribunal Federal em seguida para despejar sua soberba de erudição sobre um país aplastado pela estultice governamental.
Como a palavra temerário tem sílabas demais, pouca coisa fica fora do alcance do novo governo. Em alguma medida não se pode dizer que Homer Bolsonaro abandonou a rebeldia de quando instalava bombas nos banheiros do quartel.
O Itamaraty sempre foi a referência no país dos quadros mais inteligentes versáteis e preparados, sobretudo em termos de humanismo. Nem mesmo os militares se arriscaram a tripudiar da inteligência diplomática. Mas isso não é para Bolsonaro.
Conseguiu encontrar no corpo diplomático brasileiro talvez o único espécime que acredita que a terra é plana, que o universo gira em torno da terra. Crê também que Antonio Gramsci aprendeu com Lobsang Rampa como transmigrar sua alma para o corpo de Fritjof Capra, tendo assim instituído os princípios do comunismo astrológico, que vem sendo implantado de forma meticulosa. De fato, já abduziu a ONU, a Pablo Vittar, a quase totalidade dos países do planeta, o curso das águas, o ciclo das chuvas e o quinto dos infernos. Diz-se até que Gretel e Hansel, Gollum e seu alter, Mourão, digo, Sméagol, Senhor Spock e mesmo a pequena Dorothy e seu cãozinho Totó, todos foram inapelavelmente convertidos ao marxismo cultural através de sofisticadas experiências com LSD na antiga cortina de ferro. Como não fosse aterrador o suficiente, Henrique Fraga, o eleito de Bolsonaro é também o único no recinto que acredita existir vida inteligente em Orvalho de Cavalo.
Aliás ele é a causa da escolha. Antes de tudo, uma questão de QI, quem indica. Consultados, cada membro do Itamaraty, inclusive os que vão tomar posse nos próximos dez anos, o novo Chanceler foi o único que não apresentou constrangimento para indicar Orvalho de Cavalo para a embaixada do Brasil em Washington. Sua missão prioritária será convencer Trump que a Onu, aquele antro comunista, precisa ser expelida do território dos EUA, além de tirar o suspeito vermelho da bandeira.
Fontes anônimas garantem que a detecção do novo chanceler só foi possível com o dispositivo criado pelos doutores Raymond Stantz e Egon Spengler para localizar inteligências ectoplásmicas.
Como desgraça pouca é bobagem deixo para o final o cargo mais assombrado de toda a nova esplanada: o Ministério da Educação. Que pessoa com qualquer fiapo de vínculo com a área pedagógica seria cretina o suficiente para vincular seu nome a eventual primeira “fakelaw” brasileira com o nome de “escola sem partido”, e assim inaugurar o provável maior mico civilizatório de toda a história da civilização?
Uma lei que promete acabar com algo que só existirá depois que a lei entrar em vigor. O Brasil pretende superar o paradoxo de Einstein e voltar no tempo para acabar com algo que ainda não existe.
É verdade que qualquer um pode aceitar o cargo, mas quando o indigitado deixar o ministério não conseguirá emprego nem que prove ser capaz de ensinar Libras às amebas.
Para além dessa meta escatológica, a agenda desse ministério é será desafiadora: romper com a comunidade lusófona, revogar a reforma ortográfica, não, essa seria uma medida inteligente. Traduzir “Os Lusíadas” para um idioma inteligível, inclusive raspar a pedra roseta e reescrevê-la no português usado na caserna. Deportar sumariamente Guimarães Rosa já que ele escreve na mesma língua que James Joyce, não é, portanto, um patriota, amante do idioma de Trump. O bateu, levou.
A propósito, não podemos esquecer. Darwin, é outro comunista cuja obra está proscrita.
O Brasil não elegeu um governo, fundou uma escola de “despensamento” e a exaltação da ignorância como novo marco civilizatório. E foram necessários 57 milhões de eleitores para escrever a epopeia do cretinismo. Os efeitos sobre o universo podem ser nefastos.
O Big Bang está ameaçado pelo Verbo.
. . .
Não, não é o Big Ben de Londres.
Não, também não tem nada haver como membro do colega de profissão do Alexandre Frota, o Kid Bengala. o Big Bang é o fenômeno cosmogônico . . .
Deixa pra lá!
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Xi, francisquinho, deitaram a língua na jabuticaba!