quarta-feira, 28 de novembro de 2018

O clube dos cafajestes e os últimos humanos do país

O clube dos cafajestes e os últimos humanos do país
Démerson Dias

                                                                                                            “Vamos falar de maneira direta: fanatismo e racismo
                                                                                                                   estão entre os mais graves males sociais que assolam 
                                                                                                            o mundo hoje. Mas, ao contrário de uma equipe de super-
                                                                                     vilões fantasiados, eles não podem ser interrompidos com 
                                                                                                   onomatopeias, um "zap" de uma arma de raios. A única 
                                                                                                  maneira de destruí-los é expondo-os, para revelá-los pelos males insidiosos que realmente são.” 
Stan Lee  (28/12/1922 — 12/11/2018) 



Clube dos Cafajestes - Animal House (1978)
     O futuro presidente já ensinou aos seus eleitores que “Ideologia é muito pior que corrupção”. Então, o governo trata de aliciar todos os corruptos de sua facção ideológica para que seja possível protegê-los das ações  policiais em larga escala que serão despejadas pelo país a fim de exterminar os partidários das ideologias contrárias.
     E a lista é longa, o futuro governo quer acabar com LGBTs,  negros, índios, mulheres, professores, florestas, petróleo, estatais. E também, médicos que curem pessoas sem enriquecer a si, às seguradoras, ou laboratórios. Seus seguidores não ligam para formalidades, querem resultados, e já existe um rastro de sangue demarcando o trajeto entre a eleição e a posse.
     Como se vê não é um governo mas um empreendimento de assassinato e demolição.
     De outro lado temos republicanos de esquerda que estão desarmados, desarticulados, indignados, confusos, assustados, e que, a cada movimento anunciado pelo presidente sonegador, corrupto e cretino, aumentam a dose do antidepressivo. É como se as pessoas acreditassem tanto na vitória da resistência contra o protofascismo que, agora, se espantam a cada confirmação do repertório de maldades. Sim, é real, gente!
     Isso parece-me compreensível, mas daí a alguns legitimarem esse processo a ponto achar que precisamos entender o resultado das urnas como legítimo é algo que não condiz com tudo o que dissemos ao longo das eleições.
     Houve manipulação do eleitorado? Ou não vemos a hora de trazer Steve Banon para nosso time? Vamos condenar as práticas, ou aderir a elas?
     Mas quem disse que isso é possível para a esquerda? Convém pensar melhor, a prática  comprova os que servem Bolsonaro não fazem o mesmo com a esquerda. Vide a denúncia constatada pela imprensa de doação indireta a Bolsonaro de R$12 milhões, caixa 2 e abuso de poder econômico, quando até o financiamento privado de campanha é proibido. O TSE deve esperar o tempo necessário para o julgamento ser inofensivo.
     Temer, Aécio, Bolsonaro, Perrellas e quase todos os futuros ministros possuem pendências judiciais, ou existem gravações falando em milhões em propina. Nas milhares de horas de gravação de Lula não existe um registro sequer em sentido parecido, mas é Lula que está preso como não apenas o maior corrupto do país, mas também o maior especialista no mundo todo em esconder patrimônio.
     As evidências de pesos e medidas diferentes é mais do que evidente. Inclusive Bolsonaro que terá processos contra ele suspensos por prerrogativa de foro ao chegar na presidência. Para Dilma e Lula o judiciário correu mais que Fórmula 1 para evitar esse tipo de situação. Aliás o susto que Moro tomou e o esforço feito para que o desembargador Favreto não conseguisse libertar Lula é merecedor de vários recordes Guinness. Inclusive de maior confraria judiciária no mundo.
     Mas não é só isso, capturaram um grampo ilegal de Dilma e Lula combinando a nomeação para cada civil e Gilmar Mendes, como um bailarino, pegou Lula “no pulo”. Até hoje tenho convicção que o despacho de Gilmar é nulo, mas a esquerda é mais republicana que a direita. Como é possível depreender, por exemplo, apenas observando o que ocorre na ocupação da Casa Civil. O atual chefe possui inúmeros processos instaurados, e outros tantos arquivados ou engavetados da forma mais conveniente.
     Do outro lado, um ex-chefe da casa civil de Lula foi preso porque entrou numa sala e cumprimentou os presentes que, supostamente, negociavam propinas. Seu cumprimento foi como uma senha maçônica que garantia que ele tinha domínio sobre o maior fato de corrupção da história do país até então.
     A outra ex-chefe virou presidente e foi deposta por “pedaladas” que assessores do Congresso Nacional afirmam que ela não cometeu. Dilma caiu porque se recusou a manter a prática de comprar votos de parlamentares. Aliás, um dos que votaram a favor do impeachment de forma espalhafatosa foi preso dias depois por corrupção. O próprio condutor do processo na Câmara está preso. Dirceu caiu por “corrupção”, Dilma porque recusou a corrupção.
     Já futuro chefe da casa civil é réu confesso de caixa dois. Perdoado por ninguém menos que Sergio “consigliere” Moro, e seguem de mãos dadas rumo ao ministério do governo que só foi eleito porque Moro mandou Lula para a cadeia. Pelo que se vê, a principal função de Moro no futuro governo será manter as tornozeleiras afastadas dos membros do governo, e sua base no congresso que deve mais de 600 milhões para o Estado. Já que a Polícia Federal obedece o ministério da justiça e o judiciário e Moro já subordinou todo mundo do CNJ abaixo, está tudo sob controle, Moro só não disse que mata no peito porque o último a usar essa expressão fez exatamente o contrário.
     Existem casos secundários da Casa Civil, Antonio Palocci ficará preso enquanto presta serviços como vazamento radioativo contra o PT. Erenice Guerra (março a setembro de 2010) foi derrubada por denúncias que o próprio ministério público reconheceu depois, não haver provas para embasar. Gleisi Hoffman quase foi presa com seu marido e ex-ministro Bernardo Cabral, dois anos depois, igualmente absolvidos por falta de provas. Em que mundo Onyx Lorenzoni pode ser ministro da Casa Civil? Fácil, num mundo em que Sergio Moro possa acobert . . . digo, atestar, de coração e com sua toga imanente que se trata de homem de boa fé.
     Ainda que alguns, ou muitos, se esforcem para serem condescendentes, é fato que nem sequer existe hiato entre o golpe de 2016 e a eleição de 2018. Aquilo lá deu nisso aqui.
     Lula foi preso porque o juiz Sérgio “minority report” Moro previu que em algum tempo futuro ele tomaria posse de um conjunto de três kitnetes que não valem um auxílio moradia de juiz.
     Bastou apenas essa prisão para que a boa fé fosse restaurada ao mundo.  Por isso, pouco importa que se tenha recorrido a um processo espúrio e insólito, e que resulta imediatamente na condução de seu algoz a um posto político no governo eleito, com a agravante do perdão e parceria com uma infinidade de políticos com evidências inquestionáveis de ilicitudes de todo tipo. Moro é o cordeiro de deus que está acima de todos no governo. Pobres de nós mortais.
     É impressionante a quantidade de flagrantes que faltam a Lula em relação aos demais. Considerando que até Joaquim Barbosa possui uma offshore para aquisição de imóvel no exterior, Lula corre o risco de ter sido preso por ser o mais incorruptível agente político da história do país. Milhares de horas de grampos e nenhum milhãozinho mixuruca sequer ventilado. Nem mesmo em forma de pé de milho.
     Enquanto isso, a pasta de esportes será contemplada por ninguém menos que um dos helicocas, digo Perrella. O maior segredo de justiça desde o assassinato de JFK. Digamos que o novo responsável pelos esportes será um upgrade comparado com Marin, Teixeira e Havelange, pobres amadores.
     Bolsonaro ainda não instalou o fascismo. Provavelmente nem vai precisar queimar o Reichstag. Basta eliminar paulatinamente as principais forças de resistência. Instalar os conselhos de ética que Vélez já prometeu nas escolas; disseminar o obscurantismo e o medo intervindo nas universidades.
O Judiciário já está garroteado via Supremo Tribunal Federal que agora acredita que o “movimento de 1964” foi tão legítimo quanto a eleição da rinoceronte Cacareco, ou do macaco Tião. Pouco importa quantas tardes caíam sobre viadutos, ou corpos da ponta da praia.
     É preciso unir forças e manter pressão permanente e incessante ao governo, seus membros e apaniguados. recepções permanentes em aeroportos, marcação cerrada e calendários de denúncias. Efetivamente anunciaram que querem acabar com quem pensa diferente.  Quantos vamos esperar cair para começar a reação. Se não podemos sonhar, não os deixemos dormir, ensinaram as manifestações espanholas.
     A questão principal é saber se o cortejo dos cafajestes vai desfilar sob nosso silêncio, aplauso, ou repúdio. Sendo que o principal braço ideológico da burguesia, a mídia, já deu seu veredito: “De agora em diante é tudo silêncio. E nós nunca mais ouviremos a voz do brasil”.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Quem com ferro queima quando bala se lambuza

Quem com ferro queima quando bala se lambuza
Démerson Dias

“Essa o Homer não vai entender”
William Bonner

Parte do Brasil não sabe se está entrando no mundo do palhaço assassino, ou na hora do pesadelo. É certo que país irá despertar, seja gritando, caindo da cama, ou desmascarando o palhaço.
Precisamos torcer febrilmente para que o mundo nos enxergue como uma comédia de erros, do contrário poderemos começar a ter problemas para sair das fronteiras do país por ameaça fitossanitária. Refiro-me ao risco de acharem que o Brasil produziu em série, a primeira espécie devoradora de cérebros da humanidade. A suspeita é que os zumbis surgem quando pessoas com problema agudo de acefalia ou distorção cognitiva ameaçam e avançam contra as faculdades mentais sadias das demais pessoas.Essa pulsão supõe que alimentando-se dos cérebros alheios serão capazes de recompor os próprios. Mas é certo que isso apenas faz alastrar o problema gerando novos zumbis.
Por outro lado. a esperança de 42 milhões de brasileiros é que ao longo da primeira reunião ministerial do futuro governo o surto termine com a autofagia entre os membros da equipe e que essa endemia fique restrita ao gabinete, no máximo alcance o novo congresso.
Segundo especialistas essa é a hipótese mais alentadora. Ainda assim não se descarta que a aglomeração de tornozeleiras eletrônicas em torno do novo prócer, num recinto pequeno eletrocute a todos, ou que pelo menos a reunião avance para uma cena de pastelão e o país perceba que a eleição foi apenas um trote do primeiro de abril de 1964 que passou do prazo e foi ingerido por aqueles de inspiraram a confusão toda.
Suspeita-se que tudo começou quando uma sociedade secreta Visionários do Sagrado Excremento cujos grãos mestres são os venéreos senhores Diogo Pereira, Josias Bonner, Merval Mainardi e William de Souza convenceram seus irmãos que precisavam insuflar uma horda de mandatários que realmente facilitasse a produção de manchetes escandalosas. Um caudilho beletrista, um príncipe dos sociólogos e a maior liderança política da história recente do país não ofereceram emoções ultrajantes suficientes. Tudo foi um acidental golpe de marketing, nada além do de sempre. A mídia criando notícia.
O maior inconveniente para esse pessoal é ter que se conformar que nem sequer terão sobre quem despejar a “hashtag” “vergonha alheia”. A estupidez é obra deles com eles mesmos. Só fizeram o cara acreditar que era mito mesmo.
Pouca gente entendeu a sutileza de Bolsonaro chamar de superministro e dar a Justiça ao ex-füher de Curitiba, Sergio Moro. A mensagem é sofisticada. Fazendo justiça porque foi Moro quem ganhou a eleição tirando Lula da jogada, um candidato imbatível. É como se um juiz de futebol marcasse o gol, apontasse para o centro do gramado e prontamente encerrasse a partida. Claro que tinha que auferir o bônus da conquista.
E não se fez de rogado, já tratou de garantir a inocência de seu colega de ministério que afirmou ter embolsado caixa dois. Tudo bem, reconheceu e pediu perdão. O próprio Bolsonaro reconheceu que praticou lavagem de dinheiro através do próprio partido com uma doação da JBS. Tranquilo. Essa é uma das práticas mais elementares em governos autoritários. Aos amigos tudo, aos Lulas e inimigos, a lei.
Resta saber se Moro ainda alimenta amizade pelo tucanato deposto por João Doria. Se assim for, sabemos que os novos helicocas, ou mesmo as novas rotas de armas e drogas que utilizarão o Aeródromo de Claudio, que pertence à família de Aécio estarão sob a proteção do novo superjusticeiro. Mas ai do sem terra que levantar a enxada para capinar sem pedir licença e perdão aos posseiros amigos do poder. Também os índios de todas as etnias que fizerem arcos e flechas ornamentais. Todos potencialmente terroristas.
Assim como todo aquele que ousar enfrentar de corpo aberto os cacetetes, balas e porradas, dos milicianos e jagunços sejam oficiais ou mercenários, são todos candidatos a pena de morte sumária, como promete o juiz carioca, também da tropa bolsonaziana eleito governador.
Quem melhor que Moro, o juiz mais seletivo da história para encobrir e legitimar todo o tráfico de armas, drogas, influência e ainda atestar ao Departamento de Estado da Matriz que tudo transcorre como programado?
Essa será a faceta mais sarcástica e cínica do governo. Moro cumprirá estágio de dois anos ali e pousará no Supremo Tribunal Federal em seguida para despejar sua soberba de erudição sobre um país aplastado pela estultice governamental.
Como a palavra temerário tem sílabas demais, pouca coisa fica fora do alcance do novo governo. Em alguma medida não se pode dizer que Homer Bolsonaro abandonou a rebeldia de quando instalava bombas nos banheiros do quartel.
O Itamaraty sempre foi a referência no país dos quadros mais inteligentes versáteis e preparados, sobretudo em termos de humanismo. Nem mesmo os militares se arriscaram a tripudiar da inteligência diplomática. Mas isso não é para Bolsonaro.
Conseguiu encontrar no corpo diplomático brasileiro talvez o único espécime que acredita que a terra é plana, que o universo gira em torno da terra. Crê também que Antonio Gramsci aprendeu com Lobsang Rampa como transmigrar sua alma para o corpo de Fritjof Capra, tendo assim instituído os princípios do comunismo astrológico, que vem sendo implantado de forma meticulosa. De fato,  já abduziu a ONU, a Pablo Vittar, a quase totalidade dos países do planeta, o curso das águas, o ciclo das chuvas e o quinto dos infernos. Diz-se até que Gretel e Hansel, Gollum e seu alter, Mourão, digo, Sméagol, Senhor Spock e mesmo a pequena Dorothy e seu cãozinho Totó, todos foram inapelavelmente convertidos ao marxismo cultural através de sofisticadas experiências com LSD na antiga cortina de ferro. Como não fosse aterrador o suficiente, Henrique Fraga, o eleito de Bolsonaro é também o único no recinto que acredita existir vida inteligente em Orvalho de Cavalo.
Aliás ele é a causa da escolha. Antes de tudo, uma questão de QI, quem indica. Consultados, cada membro do Itamaraty, inclusive os que vão tomar posse nos próximos dez anos, o novo Chanceler foi o único que não apresentou constrangimento para indicar Orvalho de Cavalo para a embaixada do Brasil em Washington. Sua missão prioritária será convencer Trump que a Onu, aquele antro comunista, precisa ser expelida do território dos EUA, além de tirar o suspeito vermelho da bandeira.
Fontes anônimas garantem que a detecção do novo chanceler só foi possível com o dispositivo criado pelos doutores Raymond Stantz e Egon Spengler para localizar inteligências ectoplásmicas.
Como desgraça pouca é bobagem deixo para o final o cargo mais assombrado de toda a nova esplanada: o Ministério da Educação. Que pessoa com qualquer fiapo de vínculo com a área pedagógica seria cretina o suficiente para vincular seu nome a eventual primeira “fakelaw” brasileira com o nome de “escola sem partido”, e assim inaugurar o provável maior mico civilizatório de toda a história da civilização?
Uma lei que promete acabar com algo que só existirá depois que a lei entrar em vigor. O Brasil pretende superar o paradoxo de Einstein e voltar no tempo para acabar com algo que ainda não existe.
É verdade que qualquer um pode aceitar o cargo, mas quando o indigitado deixar o ministério não conseguirá emprego nem que prove ser capaz de ensinar Libras às amebas.
Para além dessa meta escatológica, a agenda desse ministério é será desafiadora: romper com a comunidade lusófona, revogar a reforma ortográfica, não, essa seria uma medida inteligente. Traduzir “Os Lusíadas” para um idioma inteligível, inclusive raspar a pedra roseta e reescrevê-la no português usado na caserna. Deportar sumariamente Guimarães Rosa já que ele escreve na mesma língua que James Joyce, não é, portanto, um patriota, amante do idioma de Trump. O bateu, levou.
A propósito, não podemos esquecer. Darwin, é outro comunista cuja obra está proscrita.
O Brasil não elegeu um governo, fundou uma escola de “despensamento” e a exaltação da ignorância como novo marco civilizatório. E foram necessários 57 milhões de eleitores para escrever a epopeia do cretinismo. Os efeitos sobre o universo podem ser nefastos.
O Big Bang está ameaçado pelo Verbo.
. . .
Não, não é o Big Ben de Londres.
Não, também não tem nada haver como membro do colega de profissão do Alexandre Frota, o Kid Bengala. o Big Bang é o fenômeno cosmogônico . . .

Deixa pra lá!