Démerson Dias
Paulo Roberto Rios Ribeiro 28/12/1961 - 27/3/2024 |
Paulo Roberto Rios Ribeiro foi uma das pessoas com quem tive as mais profundas afinidades políticas. Divergimos, por vezes, na tática.
Ele era movido por urgências. Nesse caso, invertia-se o tempo, eu era mais velho e paciente. Paulo Rios tinha na impaciência uma virtude. Acreditava em linhas diretas, o quanto mais imediatas. Não fazia concessão a hipocrisias. No que era mais nobre que eu, que as entendia e relativizava. Hoje tenho quase a mesma urgência, mas ainda sou mais paciente.
Trabalhar com o Paulo era ter que se conformar em realizar o máximo o mais breve possível. Não acreditava em adiamentos, protelações. Tinha a vontade política no limite da própria realidade. Se tivesse as condições necessárias, Paulo é daqueles que realiza impossibilidades. Tal qual Arquimedes, moveria o mundo com o ponto de apoio e alavanca adequados.
Não quero suscitar os fantasmas que exorcizamos juntos. Paulo por vezes era incontível. no melhor sentido da palavra. Quem apostasse contra sua capacidade de ação, no mínimo se frustrava. Foi um líder que tive a honra de ladear, alguns passos atrás, que seu fôlego era pra poucos.
Aliás, lembro-me dele se orgulhando anos atrás: “Estou com o preparo físico de um atleta!” Pergunto-me se Paulo alguma fez foi capaz de fazer algo mediano. Com ele era tudo, ou um pouco mais. Paulo era um ser superlativo, nos bons sentidos que essa adjetivação pode ter.
Claro que eu me cansava e irritava com ele vez ou outra. Principalmente porque ele cismava em estar adiante da utopia. Não acreditava que as condições objetivas pudessem ser tão omissas diante das forças que as continham. A utopia para ele era como o mínimo tolerável, utopia, ou algo mais.
Uma inspiração a toda prova. Eu endossava alguns dos erros de Paulo porque as finalidades estavam certas, ainda que o caminho fosse incerto, sinuoso ou temerário.
Quantas pessoas honestas afrontam juízes neste país? Não posso deixar de citar Moysés Szmer Pereira. Paulo e ele, dois luminares que simbolizam a coragem franca e destemida.
Vou deixar de perseguir elogios, porque nessas horas ouviria dele, “deixa de ser besta, visse?”.
Em meu último encontro com Paulo estive ao seu lado, caminhando. Algo que certamente ele estaria fazendo, e eu não seria páreo para acompanhá-lo. Teríamos ainda mais afinidades atualmente do que tivemos no passado, viemos a atuar em região contígua no judiciário. História e memória.
Suponho que Paulo se cansou da paciência de seu corpo. Evitei sondar causas e instantes, mas isso é desnecessário. Paulo é como um luminar desses que descortinando espaços e fronteiras.
Olha ele aí, com alguma mania recente, descobrindo novidades e inventando alguma moda. Agora deu de coincidir seu silêncio com sua ausência. Sempre nos desafiando a olhar além.
Nunca vai deixar de me instigar, velho companheiro e irmão. Mais uma vez se antecipou além de minha capacidade de alcançá-lo. Agora, liberando-se dos limites do corpo, tenho uma certeza, Paulo segue desbravando alguma coisa.