VERBERA (Vera Moshova • Rússia)
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Por
menos que tentemos exibir, os desalinhos do nosso tempo nos impõem
um cotidiano estilhaçar de certezas.
Talvez
não tenhamos mais o talento para dar alguma ordem ao caos, ou ainda, o caos
é uma nova ordem desapercebida. Em qualquer das hipóteses, a
realidade, nossa percepção e nossas pretensões, seguem em
descompasso.
O
que mais nos desconcerta é que para cada uma dessas três variáveis,
supomos uma resposta distinta. Por essa razão estamos confusos.
O
que sabemos sobre as coisas, o que gostaríamos que elas fossem e o
que são em si mesmas parecem de espécies aversas em si.
A
experiência recomenda um recuo cauteloso e, se possível, uma revisão
crítica, mas aquelas distinções comprometem também nossa negação em relação à realidade, tendemos a enxergá-la sempre sob nossos
pés, quando nós é que nos contorcemos sobre seus ritmos e
disposições.
Os
anos nunca são novos, apenas são. Existem como sucessão de algo
que existe desde que pudemos contá-los, e alguns os contam em
abundância milenar.
Mas
gostamos de pensar que permanecemos, e o tempo se perfila e se curva aos
nossos propósitos.
De
fato, envelhecemos, enquanto o tempo se renova, porque segue.
E todo novo ano seria velho, caso se detivesse na nossa contagem em
retrospectiva.
Só
nos renovamos com os anos se o passado for referência e nossa
perspectiva repouse num futuro que parte do agora. E há quem
considere que o presente, entre o que foi e o que será, ocorre a
partir de uma distorção súbita, descontinuada e mágica. Como se
tecida pelas nossas mais sadias pretensões.
O
ano não quer ser novo. E se esperamos que, por si, o tempo nos
renove e despeje dádivas, estamos atribuindo ao tempo algo que ele
não possui, nem almeja.
A
vocação para a renovação precisa estar adiante dos nossos votos e
a disposição para mudar (melhorar?) o que temos tido ao longo dos
anos deve embasar nossas perspectivas.
Do
contrário, veremos apenas, chegar e passar, um ano que supomos novo,
diante do qual estaremos, avidamente, exercendo e aprimorando nossa
velhice. Nesse próximo período, que tenhamos disposição e sucesso
em sermos nossa própria novidade sob a contemplação eterna do
tempo.