Charge de Latuff |
Não
adianta a juíza do TRT esbravejar, nem Geraldo Alckmin fazer careta
de ditador (perdão, no caso dele, não é careta). Os únicos que
efetivamente se preocuparam com a população foram os trabalhadores
metroviários e seu sindicato.
Os
metroviários, e nem é a primeira vez, propuseram que as negociações
ocorressem sem que o transporte público fosse afetado. Porque será
que a vice-presidente do TRT não priorizou a função social da
justiça do trabalho e aderiu à tese dos trabalhadores? Será que a
propalada “linha dura” só se aplica ao lado mais fraco das
relações de trabalho?
Diante
da oferta do sindicato de que suspenderiam a greve se as catracas
fossem liberadas, a douta magistrada não ousou alinhar sua função
institucional com o interesse geral da população, a mesma que ela
afirmara não poder ser prejudicada. Afinal, se a empresa vai ter ou
não prejuízo deveria ser questão menor diante da questão do
transporte público. Ou não?
No
discurso a juíza dizia condenar os grevistas a uma greve de fachada,
100% da frota em horário de pico! E ainda se acho no direito de
contestar a legitimidade das assembleias. Ora se um dirigente não
respeitar sua categoria, vai representar a quem? A juíza está
defendendo que todo dirigente seja pelego? Cá pra nós, se até uma
juíza do trabalho tripudia da democrática operária, pra que serve
esse ramo da justiça? Qualquer justiça não especializada poderia
prestar esse tipo de desserviço.
Mas
não houve a mesma coragem e disposição para impor a efetividade no
transporte como propunham os trabalhadores. Isso não é justiça, é
bravata.
Ao
negligenciar a proposta dos metroviários, a Justiça do Trabalho
torna-se cúmplice na propagação do caos no transporte. Afinal,
preferiu posar de autoridade, à garantir o interesse público. Mais
que isso, a magistrada contribui para a criminalização do movimento
paredista, se não, vejamos a reação do déspota que ocupa o
Palácio dos Bandeirantes.
Do
governador, cujo conluio partidário está no poder a meros VINTE
ANOS nada a acrescentar, “dane-se a população”.
O
argumento do prejuízo para o erário é tão falso quanto a vocação
democrática de Alckmin. “Não, não. Veja bem, o Metrô é uma
empresa, e como empresa, precisa ter um equilíbrio financeiro"
disse ele ao Estadão / UOL. Ou seja, para esse senhor, o equilíbrio
financeiro da empresa pública é mais importante que o transporte
público. Porque só os trabalhadores devem conviver com o
desequilíbrio financeiro de suas famílias? (e como a justiça do
trabalho deixa de reconhecer efetivamente o lado mais frágil da
relação, dando lugar apenas à falácia governamental?)
O
transtorno nos transportes implica em custos adicionais generalizados
na economia. Concretamente há redução no fluxo de passageiros, mas
parte da frota e todo o sistema de suporte ao transporte, gastos com
energia, limpeza, manutenção dentre outros seguem ocorrendo,
portanto alguma perda já está ocorrendo. Aliás, a aqueles, some-se
o custo da mobilização do aparato policial repressor (quanto custam
aos cofres públicos as bombas de efeito moral?) de que o
democrático e cioso governador lança mão.
Mas
o transporte não é dever do Estado? Então porque o governador
Alckmin não faz algo que preste e preserva o transporte que não só
é interesse público, como sua obrigação?
O
reinado tucano já passou décadas vendo a situação de fornecimento
na água atingir o atual patamar catastrófico sem cumprir
minimamente sua obrigação.
Por
esse exemplo, dá pra deduzir que o povo pode amargar eternamente com
o transtorno da ausência de metrô, desde que a sanha ditatorial e
truculenta do governador seja saciada.
A
resposta daquele infeliz a quem chamam de secretário só não é
mais imbecil porque seria impossível. Em se tratando de ente
governamental, a sociedade arca solidariamente com custos de qualquer
jeito.
Mas,
afinal a prioridade do metrô é dar lucro ou transportar pessoas?
Colocando de outra forma se tiver que dar prejuízo, a estatal poderá
se eximir de cumprir suas funções? Se sim, por que a sociedade
mantém essa estatal? Se não, porque então não garantir a função
precípua de transportar pessoas?
E
cabem outras perguntas: Porque o transporte coletivo tem que dar
lucro pra alguém? Aliás, pelo discurso falacioso do Alckimin,
parece que existe uma fila de acionistas, todos de bom coração, que
serão prejudicados caso o metrô libere a catraca nos dias de greve.
Quem são os “prejudicados” pela suposta perda na liberação das
catracas?
Vejamos:
pela participação acionária que a duras penas conseguimos
encontrar na página oficial da estatal, 96,64% pertence à fazenda
do estado; 3,25% à prefeitura de São Paulo e 0,11% a outros que a
empresa não discrimina. Ora, como o estado não deve dar lucro,
liberar a catraca, a rigor não prejudica nenhum ente privado de
forma direta. E melhora diretamente a vida de milhões de
trabalhadores e demais usuários que economizarão o valor das
passagens.
Então,
como dizia o personagem do fantástico Chico Milani, “NÃO ME
VENHAM COM CHORUMELAS!”
Evidentemente
apuração real dos fatos, e muito menos da verdade, nunca vamos ler
na grande mídia. Tudo para o tucanato são negócios e negociatas.
Alguns aspectos dessa verdade não ficam mais claros por conta da
conivência generalizada dos grandes veículos de propaganda que
chamamos eufemisticamente de imprensa.
A
proposta de greve dos metroviários com liberação das catracas além
do bom senso, é uma das coisas mais lúcidas que temos ouvido nos
últimos tempos. Mas quem disse que bom senso e lucidez são matérias
de interesse público em termos políticos?